Seco e sem fim

Entre as coisas que eu faço no meu dia a dia, está atender ao telefone 199 de emergência da Defesa Civil. Mais ou menos sessenta por cento são trotes, e dos sessenta, noventa por cento são crianças.

Hoje uma criança me ligou: - moço, manda uma poliça na minha casa que o home ta batendo na minha mãe. – Tentei pegar o danadinho e disse: - fala o endereço então. –

Silêncio.

Depois ouvi ao fundo uma mulher gritando: - sai da minha casa! Sai da minha casa noiado filho da...

Silêncio.

Silêncio não. Ouvi um som forte de pancada e um grito de meio segundo. Tudo tão rápido. Não houve como identificar a chamada.

A história pra vocês termina aqui. Assim como terminou pra mim quando o telefone ficou mudo.

Estou escrevendo pra desabafar e pensando: como essa história terminou para aquela mãe e para a criança que me ligou em busca de socorro.

Será que essa história terminou?