As Idéias Agitam o Mundo

“Ideologia, eu quero uma pra viver!” – fragmento de música do cantor brasileiro Cazuza. Essa palavra é forte e significa o sistema filosófico em que a sensação é a única origem dos nossos conhecimentos; é a ideologia ainda um conceito polêmico.

No final do século XVIII, o filósofo francês Destutt de Tracy, afirmou ser a ideologia a “ciência das idéias”, partindo-se da crença na razão e no poder da ciência e suas análises dos objetos naturais. Logo depois, Raymond Williams cria três concepções básicas de ideologia: 1-sistema de crenças de uma classe ou grupo social; 2-sistema de crenças ilusórias; 3-processo geral de produção de significados e idéias. Temos as duas primeiras conotações de Williams presentes no pensamento marxista. E no livro A Ideologia Alemã, Marx e Engels apresentam três elementos básicos que caracterizam sua compreensão da sociedade capitalista e sua definição de ideologia. São as noções:

-separação (a vida humana é dividida em duas instâncias: infra-estrutura e superestrutura. A primeira é a economia, a segunda, a moral);

-determinação (são as relações de produção econômica que irão determinar a organização social);

-inversão (a realidade é distorcida pela ideologia).

Com a parte de “inversão”, Marx e Engels criam mais dois conceitos: idéias falsas (resumindo a própria ideologia) e idéias verdadeiras (a ciência pura). Ademais, esses filósofos alemães afirmam que as idéias dominantes de uma época são, na verdade, as idéias da classe então dominante. Tal tese é confirmada por Marilena Chauí, quando diz ser o Estado a representação, não de todas as classes sociais, mas, na realidade, da classe dominante. Assim, abraçando o pensamento do italiano Antonio Gransci, existe uma contenda entre “visão de mundo” versus “falsa consciência”. Ou seja, o conflito entre a realidade e a representação; o que é de fato, do que deveria ser.

Dessa forma, a ideologia teria pejorativamente veiculação às idéias e valores de um conjunto de pessoas abastadas que tendem a reforçar sua hegemonia por meio da legislação e/ou ocultação de aparelhos ideológicos do Estado. Artifícios de “idéias idealizadas”, por concluir.

Mas não podemos concordar com a existência de uma única ideologia – uma ideologia dominante -, aquela padronizada pelos meios de comunicação de massa numa sociedade capitalista de consumo. Pois, certamente há VÁRIAS ideologias a influenciar nosso comportamento no dia-a-dia. Em qualquer lugar, seja de nossa cidade: igreja, escola, praça, etc., teremos uma dada representação da ideologia... É evidente que precisamos de uma ideologia para viver. Também, não tão simples de conceituar: “ciência das idéias”. Contudo, uma coisa é certa:

“MENS AGITAT MOLEN”

[as idéias agitam o mundo – Aristóteles]

Diego Rocha