Vinde a Mim as criancinhas... Com menos de seis anos!
É com certo saudosismo que relembro minha infância. Foi uma época de transição; do carrinho de madeira ao Atari (um dos primeiros vídeo game).
Cresci num mundo fantástico, onde os heróis eram reais. As batalhas, com armas de tampinhas, nas casas em construção, deixavam algumas marcas, mas a vitória amenizava os hematomas e enaltecia o ego.
Recordo que o pior castigo que recebi foi quando mamãe proibiu-me de disputar o tão esperado campeonato de futebol, entre os meninos do bairro, em um campinho de terra batida. O corretivo me ensinou que não é bom ficar longe de casa por quase 14 horas, brincando na rua, sem almoçar e jantar.
Perdi uma unha – que cresceu perfeita de novo – em uma corrida de carrinho de rolimã. Meu dedo ficou preso no rolimã, enquanto impulsionava o carrinho, e mesmo assim prossegui na disputa.
Meu primeiro namoro durou um ano. Devo ter pegado na mão dela umas três vezes, e mesmo assim era apaixonado. Vangloriava-me de poder dizer aos amigos; “ela é minha namorada”. Os sonhos tiravam-me o sono, em pensamento revelado em canções, ou num beijo dado às escondidas... Ou numa carta tantas vezes rabiscada.
Alguns podem até pensar “como eram inocentes as crianças de antigamente”. No entanto, quando as travessuras voltam à lembrança; a inocência só transparecia na face segundos antes da varinha zunir, do chinelo estalar... Ou na missa!
A travessura preferida era com bombinhas. Ficávamos escondidos atrás de um muro à espreita de alguém distraído. Atirávamos as bombinhas e caiamos na gargalhada com o susto do infeliz. Outra era a da cobra; pegávamos uma câmera velha de bicicleta e enchíamos de areia, amarrávamos com um barbante e escondíamos no mato, de um terreno baldio, perto de casa. Quando a vítima estava próxima puxávamos o barbante arrastando a suposta cobra. Essa eu aprendi no livro Meu Pé de Laranja Lima, de José Mauro de Vasconcelos.
A do arame era a mais simples e a não menos engraçada. No fim de tarde muitos trabalhadores retornavam ao lar, de bicicleta. Um menino ficava de um lado da rua e outro do lado oposto, simulando uma briga pelo arame imaginário. “Solta o arame, esse arame é meu!”, gritávamos. As freiadas bruscas, as derrapadas e às vezes os tombos eram inevitáveis.
Todas travessuras eram planejadas; as rotas de fuga, as desculpas eram arquitetadas para evitar os puxões de orelha e os castigos, mas, esse era o fim de quase toda traquinagem.
Aos olhos dos adultos, brincadeiras de criança. Para as crianças batalhas que elegiam heróis!
Brincadeiras e travessuras como estas foram resgatadas no livro A Turma da Vila Marcondes, do Escritor Odemir Alves.
Mais informações sobre o livro no Blog: http://odemir.zip.net