Na onda do Rio 2016
Para não perder o gancho jornalístico que há uma semana tomou conta de todo o Brasil, também quero dizer o que penso da escolha do Rio de Janeiro para sediar os Jogos Olímpicos de 2016. Coloco-me apenas como admirador “normal” do esporte e ex-praticante de futebol (há bastante tempo), de tênis-de-mesa (hoje totalmente “enferrujado”!) e de vôlei (este uma paixão abandonada há pouco tempo por falta de tempo), além de anualmente, nas férias no litoral, ainda arriscar algumas raquetadas no frescobol.
Como telespectador, acompanho com regularidade as corridas de Fórmula 1, partidas de vôlei (tanto da seleção brasileira – masculina e feminina – quanto das ligas nacionais de clubes) e os “gols da rodada” no futebol. Fora isto, a cada novo ciclo da Copa do Mundo de Futebol, dos Jogos Pan-americanos e dos Jogos Olímpicos eu me interesso por inteiro. Meu espírito patriótico e desportista se aflora como o de milhões e milhões nos quatro cantos do país.
Essa introdução foi somente para ressaltar que a minha paixão pelo esporte e pelas Olimpíadas é algo lúcido o bastante para não me deixar levar pelo oba-oba do “tudo é festa”. Tento enxergar o acontecimento também a partir de outras nuances que o envolvem. É que, de fato, em ocasiões como esta é comum a multidão ser facilmente manipulada politicamente com o tão antigo (e ainda eficaz) pão e circo.
Assim, sinto-me à vontade para afirmar o quanto a escolha do Rio para sediar as Olimpíadas de 2016 traz consigo uma oportuna onda de otimismo e um necessário afago na debilitada auto-estima dos cariocas e dos brasileiros, como um todo. Talvez economistas e analistas políticos consigam provar que os bilhões de reais que serão gastos para tornar possível este gigantesco projeto não terão retorno em cifras semelhantes.
Nesse prisma é bom que se diga que certas análises técnicas, pautadas apenas em números, ficam quase sempre estagnadas no plano do materialmente mensurável. No tema em questão, elas costumam deixar passar todos os retornos intangíveis ligados à educação de crianças e jovens através do esporte. Tais dividendos certamente devem ser contabilizados desde agora, pois ninguém jamais saberá ao certo os efeitos positivos provocados pela esperança.
Foi exatamente o que provocou em mim o anúncio da escolha do Rio: esperança. Há muito tempo ando desiludido com os rumos da política em todas as suas esferas. Não posso negar que o Brasil vem avançando em muitos aspectos fundamentais, como a diminuição da desigualdade social e investimentos mais racionais em educação, saúde e cultura. No entanto, certos valores essenciais, como ética e cidadania, ainda são frágeis demais para nortear a vida pública e privada da nação. Talvez por isto seja salutar a crença nos efeitos positivos de longo prazo de um projeto tão grandioso quanto é uma Olimpíada.
No pacote de otimismo está ainda o fato de que, já em 2014, na Copa do Mundo do Brasil, seremos uma vitrine para o mundo inteiro não apenas nos quesitos futebol e turismo, mas também nos indicadores de desenvolvimento, que envolvem números da economia e aspectos diretamente ligados à educação. É como se, cada vez mais, nos candidatássemos a um lugar mais alto no pódio do time das nações desenvolvidas. Isto traz como pressuposto uma série de investimentos reais naquilo que realmente nos tornará melhores enquanto nação. Quiçá assim sejamos abençoados e não cometamos os mesmos erros que nos acompanham desde o Descobrimento.