Desconfiados, inseguros e condenados
Caminhando para o fim da primeira década deste novo milênio, há certas constatações negativas que são inevitáveis. Uma delas segue a mesma linha fortalecida ao longo das três últimas décadas do século/milênio passado: o ser humano chegou ao seu ponto máximo de desconfiança, egoísmo e insegurança.
Por conta da violência cotidiana, que atinge praticamente todos os aglomerados humanos (já não há mais a desejada paz bucólica nem nos mais longínquos recantos rurais!), ninguém está mais seguro dentro ou fora de casa. Embora não seja novidade, a belicosidade entre nações se torna cada vez mais sofisticada e destrutiva, tanto por conta das armas altamente tecnológicas quanto pela disposição de muitos humanos em serem invólucros igualmente explosivos e letais.
Ainda que o problema fique, muitas vezes, restrito aos países diretamente envolvidos em conflitos regionais, o mundo todo já sofre as consequências desse veneno chamado incerteza. Como confiar totalmente no outro sem medo de que ele seja um possível causador de sua ruína? Uma desconfiança como esta é como um vírus que infecta e mina a força até levar o indivíduo aos seus extremos.
Em casa, no trabalho, na escola, na rua, na TV, nos jornais, em todo canto a “doença” se espalha e coloca cada um na condição de egoísta desconfiado. É claro que isto nem sempre se dá às claras e de forma rápida. O processo de se fechar numa concha às vezes é lento; as pessoas vão se retraindo e se escondendo até chegar ao estágio de se armarem da forma que podem à espera do primeiro ataque.
Os exemplos disso estão por todos os lugares. Apesar dos oito anos que separam a população dos Estados Unidos dos atentados de 11 de setembro de 2001, ela ainda demorará algumas décadas para se sentir novamente segura. Os europeus caminham para também se sentir assim; o mesmo vale para afegãos, iraquianos, israelenses e outros povos do Oriente Médio, que, na verdade, não têm qualquer motivo para apostar numa segurança que nunca conheceram.
Como brasileiro, sinto-me um pouco aliviado por não estar no olho do furacão das tais “guerras santas” (uma ironia que desafia o bom senso e qualquer teoria que possa sustentar a noção de espiritualidade autêntica). No entanto, nosso país vive outra guerra diária em que violência e insegurança andam lado a lado. Assaltos, sequestros, assassinatos, corrupção, jogos de poder – mazelas que alavancam a miséria e a espelham das mais diversas formas.
Nesse sentido, os povos estão em conflito permanente em todo o planeta e vão continuar até que um dia alguma sociedade com vida inteligente entenda de uma vez por todas que a solução para a maior parte de seus problemas está na sua cara, em suas mãos, na sua vontade. Enquanto isto vou me esforçando por todas as vias para me proteger sem, no entanto, trilhar pelos caminhos do egoísmo e da desconfiança. Acredito de verdade numa reação em cadeia, começando pelo aquecimento da auto-estima, crescendo para o amor-próprio e desembocando na solidariedade, na compaixão e na união nascida do respeito mútuo. Estamos condenados a crescer, a nos iluminar interiormente; ou a perecer de uma vez por todas.