FRUSTRANTE COMO O MÁRMORE
Imaginem um imenso bloco de mármore de Carrara. Bonito. Virgem. Ali, Michelangelo enxergava sua obra, dentro da peça. E se obrigou a libertá-la. Mesmo que ela jamais tenha pedido. E assim surgiu “Moisés”.
Porém, libertar Moisés do mármore não é tão fácil. Requer obstinação, trabalho e, inclusive, frustração. Tanto por parte do artista quanto por parte do mármore. Por que frustração? Porque, por fim, Moisés não falava. Nem esboçava reação a uma pancada no joelho: indignado, Michelangelo em todo o seu orgulho, bate-lhe fortemente: “por que não falas?”
A frustração é pedregulho jogado na estrada. Da passarela à cabeça do motorista. É tão certa quanto a morte: difícil de encará-la.
E este é o maior problema das ideologias. A grande frustração que não quer ser encarada: na prática, o ser humano é perverso em todas as teorias.
Um bom exemplo é a Revolução Cubana, para os socialistas. É tema quase intocável, como um modelo de superação à tirania do capitalismo. Uma escultura conveniente aos teóricos, que não dão a mínima para o aprisionamento de um povo tiranizado por um velho vestido de escoteiro, durante cinquenta anos. O apaixonado, fanático socialista não quer encarar a verdade e foge para as desculpas ideológicas.
Muito comovente e conveniente para quem mora “num país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza”; e que até pode ir visitar aquela ilha com ares de intelectual e dizer: “Oh, lá as crianças lêem Dostoievsky!” E daí? O que pessoas que passarão a vida inteira jogando dama em praça pública ou se prostituindo, farão com “Crime e Castigo”? Qual o crime que elas cometeram para tal castigo?
Esta frustração, a de que outros levam no lombo por causa de seus ideais, não interessa ser encarada. Batem em seus joelhos e, segurando a dor, não a assumem. “Tá vivo? É humano? Fala-te!”
Não. Não é humano. Só interessa-lhe o adesivo, a tatuagem, o boné, camisa com o focinho de Che Guevara por sua própria conveniência orgulhosa e egocêntrica, da ignorância de querer fazer as vezes de intelectual. Resultado de um processo longo de lavagem cerebral.
Falta pensar, amar os outros e vestir a sua dor. No entanto, mais fácil é “tirar onda” vestindo camisas que, no fundo, não dizem nada.