História que cruza as grades
14/07/2009 - História que cruza as grades
Adriano Belisário
Em meados do mês passado, uma inusitada carta chamou a atenção da redação. Cordial e com letra caprichada, o texto deixava clara a situação do remetente já nas primeiras linhas: "Me encontro preso e gosto muito de fazer estudos e pesquisas aqui no presídio". Seguia-se, então, um pedido de envio de edições passadas, que abordavam temas como ciganos, samba e cultura africana. Surgiu, assim, a ideia de doarmos coleções completas e assinaturas da Revista para instituições penitenciárias do Rio de Janeiro.
Com o pedido atendido, a resposta não tardou: "Hoje recebi seis revistas de vocês que verdadeiramente vão me ajudar a crescer o meu grau de conhecimento. Aqui no presídio, adquiri gosto pela leitura e agora não consigo parar de ler, é muito bom", relata o detento. Infelizmente, sua motivação esbarra na falta de iniciativas neste campo, conforme dito no final do texto: "São poucas as pessoas que gostam de colaborar com um presidiário. As leituras tem me recuperado para a sociedade. Estou preste a sair daqui e quero fazer uma faculdade de filofosia. E vou conseguir".
Dias depois, outra correspondência mostrou que o alcance do simples envio das publicações solicitadas foi maior do que imaginávamos. Em uma carta de outro preso, que se afirmava como "um entusiasta incotestável daqueles que trabalham em prol da educação, da cultura e da edição de bons livros e revistas", elogios à Revista e mais pedidos de materiais que possam servir de fonte de estudo para que o autor pudesse "edificar a vida através da literatura".
As cartas são provas inconteste da demanda de novas políticas públicas na área de segurança. Tida como "escola do crime", a prisão pode ser também um autêntico espaço de discussão cultural e aprendizado, como atestam os exemplos acima. Teatros, cineclubes, círculos de leituras e atividades afins devem ser incentivadas como caminhos de reintegração social dos detentos. Quanto a nós, faremos nossa parte distribuindo vinte coleções e assinaturas da Revista de História nos presídios cariocas.
Ps: Autoria do texto acima, publicado no site da Revista de História da Biblioteca Nacional. http://rhbn.com.br/v2/home/?go=blog
Quem dera que outras revistas fizessem o mesmo e que a RHBN pudesse levar o projeto para outros estados brasileiro.
Viva a Educação!!!