QUEM É ESSE DEUS?
Disse Deus: “ E façamos o homem a nossa imagem e semelhança”. Mas disse o homem: “Façamos o Deus a nossa imagem e semelhança”.
Eu tinha 18 anos quando me converti ao evangelho que, à época, era para mim, a melhor escolha em termos de religião, por postular princípios de amor ao próximo e de uma vida melhor, tanto em termos materiais como espirituais, além de atender meus anseios quando a crença em Deus, no céu e no inferno.
Dessa forma, na euforia da fé, ou como os evangélicos dizem, baseado num único principio bíblico que nada tem a ver com esse clichê, eu vivi intensamente o “primeiro amor”.
Não faltava aos cultos. Saia pra evangelizar. E, como acontece com o novo convertido, pelo menos na minha época de conversão era assim, eu vivia eufórico. Tudo pra mim era revisto de uma magia inigualável. A fé abastecia-me. Eu vivia para ela. Sentia uma alegria imensa, a ponto de considerar os deboches, as rejeições por ser crente, uma benção. Era gostoso e um privilégio “sofrer” por amor a Cristo.
A igreja, onde eu me reunia com os irmãos, nos dias em que ia ao culto, se tornou um lugar sagrado. Em minha mente de novo convertido, todos ali eram homens e mulheres diferentes, que andavam em novidade de vida, no amor ao próximo, por isso não me foi difícil me submeter a sua doutrina. Andava de cabelo bem aparado. Não vestia camisas estampadas, pois era pecado. Não bebia. Não fumava. Não ia a cinema, nem teatro. Não ouvia música mundana. Não dançava, coisa que adorava e adoro fazer. E, assim, foi durante muito tempo.
Mas, nem tudo é permanente, assim como os sentimentos que flutuam de acordo com os estímulos que os fazem surgir. Surgem de repente, e se esvaem também, na medida em que deixam de ser alimentados, ou não tenham mais estímulos para serem cultivados.
Se quisermos saber o que é verdade para nós em relação a alguma coisa, precisamos ver como nos sentimos em relação a ela. Assim sendo, no seio da igreja evangélica eu começava um longo processo de me confrontar com as verdades que ela tentava me fazer crer. E, como sempre fui muito “pé no chão” e inquiridor, comecei a questionar. A refletir sobre essas verdades.
Li minha Bíblia 18 vezes. E isso me deu um grande suporte para fazer confrontações com essas verdades, cujo conteúdo era e é em sua maioria, manipulativo, cerceador, controlador, inibidor do que o homem tem de mais transcendente que é a sua liberdade de escolher, de fazer acontecer, de aprender a andar com suas próprias pernas, e não de ficar refém de um sistema que assassina as mentes humanas, numa pregação compulsiva onde a ênfase é a de que em tudo “TENHO QUE AGRADAR A DEUS”, ou ser “DEPENDENTE DE DEUS”, num total desvio do que a igreja também prega como “LIVRE ARBITRIO”. Aliás, que, embora pregado, não se tem o direito de usar, pelo menos na igreja evangélica, já que não somos nada, não podemos nada, só Deus pode fazer e acontecer, numa total incoerência frente ao fato de sermos imagem e a semelhança dEle. Grande despautério.
Como já escrevi e, se quisermos saber o que é verdade para nós em relação a alguma coisa, precisamos ver como nos sentimos em relação a ela.
Às vezes é difícil descobrir os sentimentos – e, com freqüência, ainda mais difícil admiti-los. Contudo, oculta em nossos sentimentos mais profundos está nossa maior verdade.
O que precisamos fazer é entrar em contato com esses sentimentos.
Entendo que podemos compreender o que está em nossa volta, através do pensamento. Pensamentos e sentimentos não são a mesma coisa, embora possam ocorrer ao mesmo tempo. Quando existe algo que precisamos conhecer surge o pensamento, e com ele imagens e figuras. Por isso, os pensamentos são mais eficazes do que as palavras como meio de comunicação. Além de sentimentos e pensamentos, também temos a experiência como um profundo comunicador das verdades que nos cercam.
Quando os sentimentos, os pensamentos e a experiência falham temos as palavras. As palavras são de fato o comunicador dessas verdades menos eficazes. São mais sujeitas a erros de interpretação e compreensão.
Por que isso ocorre? Devido ao que s palavras são. As palavras são meramente expressões orais: ruídos que representam sentimentos, pensamentos e experiências. Símbolos. Não são a verdade, a coisa real.
As palavras podem nos ajudar a entender algo. A experiência nos permite saber. No entanto, há algumas coisas que não podemos experimentar. Por isso, surgem outros meios da gente saber. E esses são os sentimentos. E também o pensamento.
O mais irônico é que a igreja dá muita importância à Palavra de Deus, e pouca a experiência. Fala demais do que Ela diz, mas não vive o que fala.
De fato ela valoriza tão pouco a experiência que quando a experiência de Deus difere do que ouviram sobre Ele, automaticamente a rejeitam e se fixam nas palavras quando deveriam fazer o contrário.
Palavras, palavras, não mais que palavras. Deus diz isso. Deus diz aquilo. Você tem que fazer isso ou aquilo. Deus fica alegre quando você o obedece. Deus quer que você se consagre. Uma alusão ao que os pagãos faziam. Ou contrário do que a Palavra diz: não quero sacrifício nem holocausto......um coração contrito é esse que me agrada.
A espiritualidade do medo, da culpa, da manipulação não tem mudado nada na vida das pessoas que eu conheço. Estou farto de Deus e da religião, farto dessas igrejas ; de todos esses pequenos clubes sociais religiosos que parecem não fazer nenhuma diferença expressiva nem provocar qualquer mudança real na vida das pessoas.
Não há como negar o quanto a figura de um de um líder se torna referência para as pessoas, principalmente os líderes religiosos como padres, pastores, pais de santo, o papa, lideres muçulmanos, budistas etc. Nada mal em ser líder, ser referência. Mal, a meu ver, é quando, esses líderes assumem a postura de ditar o que é certo ou errado, impedindo as pessoas de pensarem ou de decidirem por si mesmas, principalmente quando se trata de certo ou errado.
“Certo ou errado” são apenas descrições de ocorrências e circunstâncias, a partir do que decidimos sobre elas.
O que forma a base das decisões de um membro de uma igreja evangélica? A experiência de cada um? Não. Na maioria dos casos, esses religiosos escolhem aceitar a decisão de outra pessoa. Alguém que veio antes deles e, presumivelmente, sabe mais. Raras de suas decisões a respeito do que é certo ou errado são tomadas por eles baseadas em suas interpretações. Isso especialmente verdadeiro quando se trata de questões importantes. De fato, quanto mais importante é a questão, menos você tenderá a prestar atenção à sua própria experiência, e mais tenderá a tornar as idéias de outras pessoas suas próprias. Daí ser muito comum os membros das igrejas reproduziram o creditam ser verdade, pronunciadas pelos seus pastores e lideres. Dessa forma, passam a ver Deus, não de acordo com suas experiências, mas de acordo com as experiências dos outros.
Isso tudo explica porque a maioria desses membros de igreja renunciou praticamente todo o controle de certas áreas de suas vidas, e certas questões que surgem dentro da experiência humana,
Essas áreas e questões muito freqüentemente incluem os temas mais vitais para a alma humana: a natureza de Deus e da verdadeira moralidade; a questão da realidade máxima; os problemas da vida e da morte que cercam uma guerra, a medicina, o aborto, a eutanásia, o homossexualismo, o divórcio, o pecado, a eutanásia, todos os valores pessoais, todas as estruturas de pensamentos. Isso a maioria anulou, transferiram para seus pastores, porque têm medo de tomarem as suas próprias decisões a esse respeito.
Outra pessoa que decida! Eu concordarei! Eu concordarei! Bradam eles. “Alguém me diga o que é certo ou errado!”.
A propósito, é por esse motivo que as religiões humanas são tão populares. Não importa muito qual seja o sistema de crença, desde que seja rígido coerente e corresponda claramente à expectativa do seguidor. Devido a essas características, encontramos nesse meio pessoas que acreditam em quase tudo. A conduta e a crença mais estranhas podem ser – têm sido – atribuídas a Deus. É a vontade de Deus – dizem. A palavra de Deus.
E há aqueles que aceitam isso. Alegremente. Porque assim eliminam a necessidade de pensar.
O absurdo de se atribuir a Deus certas situações leva algumas religiões fazer-nos acreditar que matar para revelar, difundir e impor a sua verdade particular é perfeitamente justificável.
De fato, as religiões, dentre elas as evangélicas exigem que se aceite a sua palavra a esse respeito para existir como instituição de poder.
Infelizmente a maioria desses adeptos das igrejas evangélicas não se interessa por esse trabalho tão importante – que é a arte de pensar. Ou pensa, mas tem medo de assumir o que pensa. Preferem deixar para outras pessoas esse ato. E por isso que não criam a si próprios, mas são criaturas caracterizadas por hábitos – criadas por outras pessoas. Que lástima!!!!!
Edivaldo Pinheiro Negrão, evangélico desde 1972, mas que pensa, reflete e ama a Deus como pensa que é, e não como lhe ensinaram. Formação em Teologia, Filosofia, Pedagogia e Psicologia.