Online para o que importa
Como diz o cantor e compositor Oswaldo Montenegro no texto intitulado Novos Tempos, “eu blogo, tu orkutas, ele telefona, nós passamos e-mails, vos fazeis sites, eles internetam e a gente não se encontra mais”. A roda-viva cada vez mais gira a toda velocidade, deixando-nos escravos do relógio, dos compromissos e da tecnologia. Esta última se tornou uma espécie de redenção ou mesmo desculpa para amenizar a falta de tempo, os desencontros.
Na canção Sinal Fechado, composta por Paulinho da Viola há quatro décadas, já se anunciava a vida apressada como uma das consequências do mundo contemporâneo. No entanto, lá nos idos do fim da década de 1960, quando a música foi feita, o sambista se referia a uma realidade que se desenhava nas grandes cidades. Parecia distante demais do Brasil interiorano, com suas pracinhas, coretos e vidinha pacata.
O trecho “Eu vou indo, correndo pegar meu lugar no futuro... E você? Tudo bem! Eu vou indo, em busca de um sono tranquilo...” enfatiza a dualidade de expectativas que continua a dividir as pessoas. Enquanto para muitos o “lugar no futuro” significa o mergulhar por inteiro nas obrigações, no sem número de afazeres profissionais, no intrincado universo tecnológico, para outros quer dizer o tentar andar nesta contramão. Pena que temos tido tão poucos motivos para acreditar na possibilidade “de um sono tranquilo”!
Vivemos tempos de “sinal fechado” para os almoços em família, para os encontros com os amigos, para os passeios no parque, para os pés descalços na areia da praia, para as caminhadas matutinas sem compromisso com exercício físico... O sinal só está verde na internet, mesmo assim para os que têm disponibilidade para responder e-mails ou tenham conta no Orkut ou em qualquer outro site de relacionamento. De qualquer forma, no universo virtual o trânsito também é intenso e os encontros, fugidios. Nele mais valem 500 contatos à distância do que um ao lado, de carne e osso.
Não se trata de uma crítica aos valiosos recursos proporcionados pela internet (inclusive, o de resgate de “contatos perdidos do passado”!). Ao contrário, sou usuário assíduo de e-mails, sites e blogs. Eles são ótimos para aproximar distâncias, divulgar trabalhos, agilizar pesquisas. Minha crítica vai para o lugar que eles tomaram na realidade concreta das pessoas.
A minha filosofia de vida me leva a acreditar em valores que sejam sólidos e, de preferência, atemporais e universais. Eu sei que é difícil alguém escapar das mudanças que moldam o mundo o tempo inteiro. No entanto, é possível manter íntegros ideias e ideais, como uma bússola a apontar a direção certa a seguir. Temos, sim, que estar online, mas para o que, de fato, importa; de preferência em busca de uma felicidade concreta, cravada no mundo real, ao lado das pessoas que amamos e que desejamos por perto.