Mito do fora 2: o destino
Não dá para falar em destino sem trazer à tona a crença na atuação de alguma força supra-humana. Sem querer defender tese a favor deste verdadeiro mistério que, muitas vezes, aparece em nossas vidas com jeito de pura coincidência, gosto apenas de acreditar que a mão do destino age o tempo inteiro. Não que isto signifique algum tipo de roteiro no qual somos meros coadjuvantes, mas, sim, que há sinais que apontam novos caminhos, ao quais devemos prestar atenção.
Em 15 de março de 2002 escrevi um artigo intitulado “O mito do fora” (publicado no jornal Tribuna Livre, de Viçosa-MG, e postado também aqui no Recanto). Nele, de forma bastante simples e trivial, abordei um tema que certamente tem a ver com quase todas as pessoas. Afinal, relacionamentos a dois acontecem o tempo inteiro e são sempre passíveis de encontros e desencontros, assim como de começo, meio e fim.
Levar e dar um “fora” são lados de uma mesma moeda. Em qualquer um deles há sofrimento, angústia, medo e outros sentimentos nem sempre muito claros e nobres. O problema é que normalmente um dos lados veste o manto da derrota e acende a chama do orgulho ferido – um verdadeiro estopim para atitudes impensadas e tragédias anunciadas.
Há cerca de dois anos, no Rio de Janeiro, um homem matou a ex-mulher diante da câmera de um prédio porque ela o havia deixado. Na Espanha, na mesma ocasião, o mesmo aconteceu com uma brasileira, morta pelo ex-marido na frente do fórum onde ambos tinham acabado de sacramentar a separação. Em ambos os casos ficaram os filhos para remoer as tragédias.
Se as pessoas aceitassem melhor o desenrolar dos fatos em suas trajetórias de vida saberiam que começar um namoro ou terminar um casamento pode ser uma necessidade para o aprendizado de cada um. Nesta existência há novas lições todos os dias. Ninguém necessariamente chega à maturidade pelo simples passar dos anos; há idosos que não amadureceram intelectualmente ou espiritualmente, assim como há jovens que são capazes de pensamentos e atitudes dignos das pessoas mais maduras.
No texto que escrevi há mais sete anos eu lembrava que a Psicologia tem algumas explicações para o sentimento de perda que acomete aqueles que “levam um fora”. Profissionais da área dizem que sendo este fora o final de uma relação que leva à separação do par amoroso, muitas vezes não se chora apenas a separação daquele momento, mas também todas as situações de desamparo e abandono vividas algum dia e que ficaram inconscientes. Surge aí uma dor maior do que todas, que é a chamada “dor narcísica” – a nossa morte dentro do outro ou o momento quando percebemos que não significamos mais nada para o(a) parceiro(a).
Teorias psicológicas também ressaltam que, apesar das dores e das feridas que surgem depois do fim de um relacionamento, as vítimas do fora são capazes de tocar em frente suas vidas, caso sejam capazes de cultivar o amor próprio. Quem se ama sabe que é dentro de si que deve estar a motivação primeira para prosseguir, seja em que campo for.
Um bom pensamento para quem ficou na condição de preterido numa história de amor é pensar que existe alguém por aí à sua espera, talvez bem mais talhado ao seu jeito de ser, pensar, sentir. Basta se abrir e prestar atenção aos inúmeros sinais que surgem de todos os lados.
Assim que o jornal chegou às mãos de seus leitores em 2002, pelo menos duas histórias tiveram seus enredos profundamente modificados a partir do meu artigo. Como conheço bem seus protagonistas e seus comentários acerca do que fizeram após a leitura, sei que ambos agradecem até hoje a providencial mão do destino.