Enquanto isso na Sala de Justiça
Nada é pior do que a sensação de impotência vivida pela população diante de inimigos tão próximos e implacáveis quanto os agentes do crime organizado. A sensação que dá é que somente um super-herói, daqueles do gibi e do cinema, para dar jeito num problema social de tal dimensão.
Por menos poderoso e mais humano que fosse, qualquer um deles serviria. Bastaria que carregasse ao lado de algum super poder a motivação clássica (e em extinção nos simples mortais) de qualquer super-herói: a incansável vontade de defender o Bem.
Pode até ser um chavão ingênuo e ultrapassado imaginar que haja em nosso meio uma luta do Bem contra o Mal, de Deus contra o diabo. Mas se não há, com certeza existe uma confusão completa de valores entre a maioria das pessoas – aquelas que acreditam adquirir algum poder passando por cima de tudo e de todos, conquistando o que almejam através da força e do medo alheio.
Se não há o Mal, então como pode ser chamado alguém que planeja um atentado para matar milhares de inocentes? Como classificar aquele que mantém um semelhante em cativeiro em troca de dinheiro? Como entender quem usa a miséria do povo como trampolim para suas aspirações políticas? Será que a maldade pode ser relativizada de acordo com diferentes épocas e costumes culturais? Existe o chamado mal necessário? Perguntas como estas podem até ter muitas respostas, mas quaisquer que sejam elas sempre chegarão ao mesmo ponto: o Mal é descartável em todas as suas formas!
A infindável lista de super-heróis imortalizados nos gibis e nas telas de cinema e de TV carrega uma informação básica sobre os seres humanos: que a sua evolução é desigual. Tanto os super-heróis (enquanto seres que carregam projeções de características almejadas pelos homens) quanto os seus criadores são essencialmente diferentes dos super-vilões e das muitas figuras de carne e osso que lhes servem de inspiração. Em essência, há os que alcançaram um grau maior de evolução espiritual e aqueles que ainda engatinham espiritualmente – e por isto agem movidos apenas por um instinto bruto.
Há os que defendem a teoria de que o Bem e o Mal tenham vindo embutidos na natureza humana, e que o melhor caminho a ser percorrido é o que nos leva para além destes dois conceitos. Confesso que nunca consegui entender o significado prático do “para além do bem e do mal”, do filósofo alemão Friedrich Nietzsche, mesmo sabendo que há, sim, uma dimensão existencial no que ele quis dizer.
Qualquer habitante do planeta neste novo milênio é autor ou vítima dos maiores problemas que afetam a todos, começando pelas ações do crime organizado, pela fome, pela miséria e pela devastação de nossos recursos naturais. Ser autor e vítima pode ter o mesmo sentido em certos casos, mas em outros é uma questão de escolha.
Escolhe-se viver corretamente, respeitando limites e o bem estar comum; assim como se escolhe o submundo da corrupção, da desonestidade, da ganância, da sede de poder e da crueldade. São lados antagônicos que dificilmente se encontram num meio termo. Ou se torce para o Superman ou para Lex Luthor; para Batman ou para o Curinga. Eles são arquétipos do que acreditamos e do que abominamos.
Nunca foi tão necessário (e o cinema está aí para comprovar!) materializarmos heróis como Homem-Aranha, X-Man, Capitão-América, Mulher Maravilha, Lanterna Verde, entre tantos outros dispostos a acabar com o que não temos força para enfrentar. Como seria bom, por exemplo, em meio às repetitivas ondas de crimes que varrem os quatro cantos do mundo, poder ligar para algum Disk-Sala de Justiça.