Responsabilidade e valor da borboleta
Os códigos com os quais nos comunicamos armazenam nossa própria cultura. A riqueza da criatividade na elaboração e divulgação desses códigos aumenta o grau de compreensão dos sentimentos mais profundos, justificam ou comprometem nossas próprias ações, facilitam ou dificultam o diálogo, aumentam ou diminuem a empatia, na medida em que se processa o choque entre os indivíduos e, conseqüentemente, as inevitáveis comparações.
Os valores de cada um são diferentes entre si. Valores morais ou materiais.
Não há proporcionalidade na questão. O que falta na coleção de um não terá, certamente, o mesmo valor da que falta na do outro – que provavelmente será de natureza diversa.
Isso na ótica de terceiros, pois na visão dos interessados a peça que lhe falta é simplesmente incomparável e de valor inestimável. Mas o interesse pode ser também temporário.
A importância de hoje pode não ser a mesma de amanhã, se a coleção for deixada de lado, substituída ou desfocada. Se sabemos que o outro coleciona borboletas, sabemos o que é importante para ele. Se sabemos da borboleta que lhe falta, talvez saibamos do que é mais importante para ele.
Mas se não temos certeza se ele ainda está interessado em borboletas, talvez não saibamos muita coisa sobre ele... Sem idealismo não há impulso e luta, sem conquista não há ciência e evolução.
Uma pessoa pode ser feliz com pouco, outra infeliz com muito. Ou o contrário. Tudo é possível... Alguém pode ter sede de saber e se afogar, depois, com o próprio conhecimento.
Quanto mais descobrimos os segredos do Universo, e da potencialidade humana, mais angustiado podemos nos sentir.
Quanto mais aprendemos, mais descobrimos que nada sabemos! Cada porta que se abre mostra um leque de outras fechadas e muitas janelas pelas quais olhamos sem autoridade para transpor.
Sem alimento não há vida, sem fruto não há alimento, sem árvore não há fruto. Mas a árvore está na semente e esta no fruto. Se destruirmos a semente, ao comê-lo, destruiremos, também, a própria fonte da vida!
É o círculo vicioso da natureza unindo e entrelaçando o finito ao infinito, materializando os prótons e elétrons nas suas variadas velocidades e respectivos graus de dureza, travando sua própria batalha para escapar do buraco negro ou entrar nele de cabeça. Como os milhões de espermatozóides...
O que somos e o que queremos – ou o contrário – não são apenas coisas distintas; são potencialidades latentes e interligadas. O que conseguimos com elas e o que delas fazemos resulta no que somos e naquilo em que nos
transformamos. E o que baliza essa transformação e estimula nossa motivação?
E depois, que parâmetros teríamos para saber se estamos realmente no caminho certo? Pois o certo e o errado não são apenas produtos de uma determinada cultura?
Não sabemos de onde viemos, nem para onde vamos... mas não devemos nos angustiar por isso – não é para isso, certamente, que nascemos. A vida é uma especulação e um entretenimento. Pode ser uma brincadeira séria... ou um jogo perigoso!
Mas não é algo do qual se possa fugir ou fingir desconhecimento de causa. Em maior ou menor grau, estamos todos comprometidos. E é bom que seja assim, pois sabemos, instintivamente, que somos todos responsáveis...
Alegar ignorância não nos salvará, nem aliviará nossa carga. Se esta é leve ou pesada não nos compete julgar... Mas se levantar tem que sustentar; do contrário, será esmagado por ela!