A GEOGRAFIA DA POBREZA É PLANEJADA
A História da humanidade é recheada de bons assuntos e de fatos incontestáveis que alimentam as fundamentações teóricas de todos os marxistas e revolucionários pós-modernos. Basta nos reportarmos às relações de poder, quer seja na Antigüidade, no Medievo, na Modernidade ou em relação ao Estado Contemporâneo, que nos deparamos com uma visível relação vertical entre opressor e oprimido, dominador e dominado.
Os conceitos vão sendo modificados, e onde se lia Primeiro, Segundo e Terceiro Mundos ou Países Desenvolvidos, em Desenvolvimento ou Subdesenvolvidos, lê-se País Rico ou Pobre, Países do Norte e do Sul. Mudam os conceitos, permanecem os povos nas relações que, maquiadas pelas leis que garantem uma melhor qualidade de vida e que humanizam suas atuações, permitem que cada um possa produzir mais para alimentar a grande máquina capitalista e impiedosa do desenvolvimento.
Em meio aos estudos históricos, percebe-se algo interessante: excluídas raras situações individuais, por catástrofes ou resultados de guerras, países ricos de hoje ocupavam o mesmo destaque de país do Primeiro Mundo ou País Desenvolvido, no conceito geográfico do Século XX. E as projeções para o decorrer do novo século não são tão animadoras para este conjunto de países que hoje se encontram, predominantemente abaixo da linha do Equador. Dizer que o Sul é pobre não é apenas uma realidade, é uma expressão atual para a Divisão Internacional do Trabalho e a justificativa das “vocações” de cada país.
Às távolas dos Conselhos dos povos mandatários esquadrinha-se um plano especial: dividir o mundo para que ricos e pobres possam conviver, o rico cada vez mais rico e o pobre com condições de sobreviver de maneira a manter a ordem dominante. Assim, vivemos em época de neo-neo-colonialismo (veja-se Iraque), onde determina-se um espaço para se viver na grandiosidade da abundância e um outro espaço para manter essa situação, uma vez que os recursos para a manutenção de uma ordem social do consumismo são limitados. O planeta dispõe de recursos (ainda) pra sustentar a vida de seus quase 7 bilhões de habitantes, mas não com um padrão norte-americano de ser.
Não há guerra que possa ser facilmente vencida sem uma boa estratégia e sem planejamento. Diante de uma batalha, planeja-se como atacar, a hora, os ventos, a força, a gravidade... Manter um sistema de exploração também exige que haja planejamento meticuloso e racional. Dessa forma, um sistema de ideologia se impõe classificando os limites de desenvolvimento que cada região ou país poderá alcançar.
Um exemplo do planejamento da geografia da pobreza encontra-se nas relações geo-nacionais entre Nordeste e Sudeste. A manutenção de uma situação de pobreza no Nordeste favorece a mão-de-obra barata no Sudeste, um processo migratório que colabora substancialmente na formação de um exército de reserva. É um protecionismo às avessas.
Um outro tipo de protecionismo, o das patentes, dos royalities, das taxas de importação e mesmo de imposições à O.M.C. e outros organismos que deveriam garantir uma igualdade de leis para todos os países, sustenta uma geografia distributiva de povos pobres e ricos.
Assim, a Amazônia é rica. Criam-se instrumentos de dominação ideológica de que deverá ser um bem “internacional” (quem tem soberania sobre os bens internacionais? Quem os administra?). Serra Leoa não vislumbra riquezas. É problema da África e do próprio povo. Deixemo-la entregue à própria sorte. Não há planos para enriquecê-la, modificá-la. Há planejamento que justificam que é pobre. Tem vocação para pobre.
Enquanto isso, bilhões de dólares são gastos para se manter a riqueza dos países do Norte. Do “Eixo do Bem”. É uma estratégia que não apenas usa a geografia para fazer a guerra, mas para manter a pobreza, pois sem ela, a riqueza não sobreviveria.
Referência:
LACOSTE, Yves. Geografia: isto serve, em primeiro lugar para fazer a guerra. Campinas (SP): Papirus, 1988
A História da humanidade é recheada de bons assuntos e de fatos incontestáveis que alimentam as fundamentações teóricas de todos os marxistas e revolucionários pós-modernos. Basta nos reportarmos às relações de poder, quer seja na Antigüidade, no Medievo, na Modernidade ou em relação ao Estado Contemporâneo, que nos deparamos com uma visível relação vertical entre opressor e oprimido, dominador e dominado.
Os conceitos vão sendo modificados, e onde se lia Primeiro, Segundo e Terceiro Mundos ou Países Desenvolvidos, em Desenvolvimento ou Subdesenvolvidos, lê-se País Rico ou Pobre, Países do Norte e do Sul. Mudam os conceitos, permanecem os povos nas relações que, maquiadas pelas leis que garantem uma melhor qualidade de vida e que humanizam suas atuações, permitem que cada um possa produzir mais para alimentar a grande máquina capitalista e impiedosa do desenvolvimento.
Em meio aos estudos históricos, percebe-se algo interessante: excluídas raras situações individuais, por catástrofes ou resultados de guerras, países ricos de hoje ocupavam o mesmo destaque de país do Primeiro Mundo ou País Desenvolvido, no conceito geográfico do Século XX. E as projeções para o decorrer do novo século não são tão animadoras para este conjunto de países que hoje se encontram, predominantemente abaixo da linha do Equador. Dizer que o Sul é pobre não é apenas uma realidade, é uma expressão atual para a Divisão Internacional do Trabalho e a justificativa das “vocações” de cada país.
Às távolas dos Conselhos dos povos mandatários esquadrinha-se um plano especial: dividir o mundo para que ricos e pobres possam conviver, o rico cada vez mais rico e o pobre com condições de sobreviver de maneira a manter a ordem dominante. Assim, vivemos em época de neo-neo-colonialismo (veja-se Iraque), onde determina-se um espaço para se viver na grandiosidade da abundância e um outro espaço para manter essa situação, uma vez que os recursos para a manutenção de uma ordem social do consumismo são limitados. O planeta dispõe de recursos (ainda) pra sustentar a vida de seus quase 7 bilhões de habitantes, mas não com um padrão norte-americano de ser.
Não há guerra que possa ser facilmente vencida sem uma boa estratégia e sem planejamento. Diante de uma batalha, planeja-se como atacar, a hora, os ventos, a força, a gravidade... Manter um sistema de exploração também exige que haja planejamento meticuloso e racional. Dessa forma, um sistema de ideologia se impõe classificando os limites de desenvolvimento que cada região ou país poderá alcançar.
Um exemplo do planejamento da geografia da pobreza encontra-se nas relações geo-nacionais entre Nordeste e Sudeste. A manutenção de uma situação de pobreza no Nordeste favorece a mão-de-obra barata no Sudeste, um processo migratório que colabora substancialmente na formação de um exército de reserva. É um protecionismo às avessas.
Um outro tipo de protecionismo, o das patentes, dos royalities, das taxas de importação e mesmo de imposições à O.M.C. e outros organismos que deveriam garantir uma igualdade de leis para todos os países, sustenta uma geografia distributiva de povos pobres e ricos.
Assim, a Amazônia é rica. Criam-se instrumentos de dominação ideológica de que deverá ser um bem “internacional” (quem tem soberania sobre os bens internacionais? Quem os administra?). Serra Leoa não vislumbra riquezas. É problema da África e do próprio povo. Deixemo-la entregue à própria sorte. Não há planos para enriquecê-la, modificá-la. Há planejamento que justificam que é pobre. Tem vocação para pobre.
Enquanto isso, bilhões de dólares são gastos para se manter a riqueza dos países do Norte. Do “Eixo do Bem”. É uma estratégia que não apenas usa a geografia para fazer a guerra, mas para manter a pobreza, pois sem ela, a riqueza não sobreviveria.
Referência:
LACOSTE, Yves. Geografia: isto serve, em primeiro lugar para fazer a guerra. Campinas (SP): Papirus, 1988