Letras:Saber, Poder, Identidade e Expressão

Tempos modernos, uma geração pós 1984 embasbacada com um admirável mundo novo que viu 2001 passar sem nenhuma odisséia no espaço.

A pergunta que sempre me fazem e que não me canso de responder é porque fazer faculdade de letras e querer ser professor numa época em que a moda são computadores e demais recursos tecnológicos, onde quem ganha dinheiro e status são engenheiros, administradores, técnicos em computação e similares. Por que estudar literatura e ler um livro de 500 páginas se temos o mundo em nossas mãos ao simples “clicar” de um mouse, e pior, pra que se preocupar com regras de português se temos uma nova linguagem, o tal “internetês”. Minha resposta é simples.

O poder da palavra e do saber são coisas que não caem em desuso nem perdem importância. Uma palavra bem ou mal usada ainda constrói e/ou destrói pessoas, sentimentos e leis; pode abalar estruturas, emocionar, confrontar sistemas, machucar, causar um simples sorriso e até ser uma ponte para nossa liberdade e felicidade.

A verdadeira sabedoria não é aquela que usamos para enriquecer, ou a capacidade que temos para dominar engenhocas eletrônicas, mas sim aquela profunda, duradoura, que alimenta o intelecto e a alma, que vai conosco para o túmulo, e cuja única maneira de deixarmos como herança é através do ensino, da transmissão desta sabedoria para nossos alunos e filhos. Ser professor é ser mágico, e através dos rituais de ensinamento e aprendizagem iluminar mentes e almas, transformando o metal bruto de nossa consciência pré-condicionada em ouro puro de conhecimento. Podemos sim ser alquimistas do raciocínio, e podemos mudar o mundo (pelo menos o interior) nosso e de nossos alunos.

Todo mundo procura identidade, conhecer a si mesmo e encontrar um lugar na sociedade, e não acredito que uma cultura que menospreza o passado e que uma globalização que por vezes desconsidera particularidades culturais, individuais e regionais, seja a única nem a melhor maneira de consegui-la. Devemos considerar nossa língua, costumes e literatura como uma maneira de conhecermos o inconsciente coletivo de nosso povo, penetrando nas mentes e costumes do passado, buscando assim identificar e reconhecer uma identidade coletiva e individual no presente.

A necessidade de se expressar é tão antiga quanto a humanidade, e é através da palavra escrita e falada que conseguimos explorar da melhor maneira a força da expressão. Falar e escrever bem, ou seja, em síntese, usar bem a palavra, nos confere a habilidade de nos expressarmos de maneira mais clara e objetiva, alcançando respeito e liberdade.

Um país que ambiciona evoluir, desenvolver e prosperar deve investir em educação, cultura e tecnologia. Todas as profissões e funções são importantes, e é com orgulho e prazer que escolhi o caminho educativo-cultural, mesmo ciente de que estou seguindo o caminho das pedras, mas acredito que alcançarei uma recompensa que irá muito além da material, e que valerá toda minha vida.

Assistindo uma vez a um famoso programa televisivo, o Big Brother, vi que o apresentador se referia aos participantes como “meus heróis” e fiquei pensando: “Se eles são heróis brasileiros, o que será do nosso país?”

Heróis somos nós, que caminhamos na contramão, corajosamente buscando nossos sonhos, apesar de todas as dificuldades, tentando construir um mundo melhor, tornando-nos melhores e fazendo com que as pessoas sejam pelo menos um pouco melhores e esclarecidas.