Periculosidade para professor
Uma notícia recente me fez refletir sobre a real situação de boa parte dos professores brasileiros. A matéria, cujo título era “Câmara rejeita adicional para professor de presos”, ressaltava que a Comissão de Finanças e Tributação da Câmara Federal havia rejeitado no início deste mês o Projeto de Lei 4229/04, que concede adicional de periculosidade a professores de presos e outros trabalhadores em educação do sistema prisional. A proposta, que havia sido aprovada pela Comissão de Trabalho, foi arquivada.
O arquivamento desse projeto de lei talvez fizesse sentido se, no lugar dele, surgisse um novo com a proposta de conceder adicional de periculosidade a todos os professores, sem exceção. Não, não é piada. Aliás, é tão sério que praticamente toda semana surgem notícias envolvendo agressões de professores por parte de alunos.
Só para ilustrar, eis algumas manchetes de veículos de comunicação de circulação nacional: “Aluno de 9 anos decepa dedo de professora na Grande SP” (Folha Online, de 29/06/2007); “Aluno espanca professora em sala de aula em Ribeirão Preto-SP” (Estado de S. Paulo, de 22/02/2008); “Alunos colam professora na cadeira em escola de Campinas-SP” (Folha Online, de 23/09/2008); e “Professora sofre traumatismo craniano ao ser agredida por aluna em Porto Alegre” (G1, de 24/03/09)
Sobre a agressão em Porto Alegre, a responsável foi uma adolescente de 15 anos, aluna da 8a série do Ensino Fundamental da Escola Estadual Bahia. Esta desferiu chutes e socos em uma professora da 4a série, somente por ela tê-la repreendido no corredor. A vítima sofreu traumatismo craniano.
Há um ano o Sindicato de Especialistas de Educação do Magistério Oficial do Estado de São Paulo realizou uma pesquisa em que constatou que 86% de um total de 683 escolas estaduais relataram algum tipo de violência ocorrida em 2007. O percentual de violência relatado foi similar ao obtido pelo Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo, em pesquisa realizada em 2006. À época 87% dos professores entrevistados revelaram saber de casos de violência ocorridos na sua escola. De acordo com os dados desta pesquisa, a violência verbal ocorreu em 96% dos casos; os atos de vandalismo, em 88,5%; a agressão física, em 82%; furto, em 76%; assalto a mão armada, em 18%; violência sexual, em 9%; e assassinato, em 7%.
O quadro mencionado não deve ser diferente no restante do país. Ser professor há muito deixou de ser motivo de orgulho para inúmeros profissionais da sala de aula. A situação real de muitos deles pode ser conhecida através de suas fichas médicas. Casos de depressão, de fobias e até mesmo da síndrome do pânico em docentes se tornaram rotineiros em consultórios de psicólogos e psiquiatras.
O ideal do sacerdócio do professor (algo historicamente péssimo, diga-se de passagem!) não cabe mais no mundo contemporâneo. Mal pago e vítima das mais diversas agressões oficiais e cotidianas, ele se tornará artigo de luxo logo, logo. Já ouvi alguns deles dizendo, inclusive, que é mais negócio rasgar o diploma e investir a energia que resta num carrinho de cachorro-quente.
Enquanto a situação aqui é mais ou menos esta, na Coréia do Sul um professor de 1a a 4a série do Ensino Fundamental, com 40 horas semanais (sendo vinte em sala de aula e o restante para estudos, planejamentos e atendimento a alunos), recebe o equivalente a 10 mil reais por mês. A nossa educação ainda tem muito que aprender...