TEMAS PARA FILOSOFAR (3): LIBERDADE
“Liberdade, Liberdade, Abre as asas sobre nós...”
 
Dentre os grandes temas que compõem a Filosofia, talvez o mais incompreensível e o mais desejado seja a liberdade.   “Algo que a alma humana alimenta, não há ninguém que explique e ninguém que não entenda”, segundo Cecília Meireles, o homem promoveu guerras em nome da paz e efetuou prisões em nome da liberdade.   E confundiu o seu sentido bem mais que explicou, impondo-se a si mesmo grilhões que, segundo sua concepção social, permitem que o mundo seja livre.
Amo a liberdade, por isso deixo livre tudo que tenho. Se elas voltarem, é porque as conquistei. Se elas não voltarem, é porque nunca as tive.
 
Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), em seu contrato social, fala da liberdade como algo natural, inerente ao ser humano, entretanto delimitada pela lei socialmente imposta. Os ideais de liberdade de Rousseau foram tão fortes na França que inspiraram a segunda fase da Revolução Francesa, sendo as coordenadas teóricas dos setores mais radicais desta Revolução.
 
Todavia, o mesmo Rousseau preocupava-se com os limites dessa liberdade, uma vez que declarava que o homem, apesar de nascer livre, “em todos os lugares ele estava acorrentado”.    Talvez o sentido maior dessa expressão se devesse não ao fato dos limites impostos pelas leis criadas pelos próprios homens, mas às responsabilidades advindas destas leis, que coordenavam a vida em um “contrato social”, para que se exercesse direitos e deveres comuns, a fim de levar toda uma sociedade a viver em harmonia.
 
O pensamento de Rousseau, sendo-nos favorável ou contrário, entretanto, não é a tônica de nosso tema, bem como não o é o pensamento de Locke, Kant, ou qualquer outro, mas a associação da liberdade com a preocupação dos filósofos e com a intensa necessidade de trazer o tema para o palco do mundo contemporâneo, em que nos sentimos muitas vezes mais tempo acorrentados que livres.
 
Vejamos um prático exemplo da liberdade versus a violência reinante.   Ao entrarmos em nosso momento de repouso de homem livre, recolhemo-nos ao nosso lar, que geralmente possui um portão gradeado, cadeados, travas de segurança, alarmes, interfones etc., enquanto a sociedade do crime organizado age nas ruas e nas calçadas, sobre a égide da “liberdade sistêmica”, estando nós, cidadãos produtivos numa sociedade livre, acorrentados dentro de nossas casas, muitas vezes temerosos em realizar programações noturnas ou especiais, vítimas do temor imposto pela elevada e crescente onda de violência que atinge o espaço urbano, principalmente, as grandes cidades.
 
Vejamos um outro exemplo do discurso liberdade, é a garantia que todos têm de “ir e vir”.   Acontece que a locomoção de um lado para o outro, o ingresso em determinados ambientes, a presença de um cidadão em determinados lugares estão condicionados à sua posição social, ao seu nível sócio-cultural ou, em alguns casos mais alarmantes (mas não menos comuns), ao dinheiro que possui para fazer valer a sua liberdade.    Não é livre para visitar um museu, ou ver uma peça teatral, quem não tenha recursos financeiros para a locomoção ou ingresso em tais espaços, ou mesmo quem não se guarneceu de pré-requisitos para entender e admirar tais eventos.
 
Em nossa concepção de Constituição, acreditamos que todos têm direito à liberdade e que essa liberdade é igualitária, mas há crimes e criminosos que jamais têm sua liberdade cerceada, enquanto há enganos que privam cidadãos, geralmente pobres, de seu dom mais precioso.
 
É um tanto natural que nosso discurso possa parecer um pouco mais político que filosófico, mas como desvincular um tema tão inerente aos princípios da vida social de seu contexto, ou de sua face política?   Não é assim que se faz, também filosofia?   Não é a liberdade o centro do estudo político de Hannah Arendt?   Não é a liberdade o sonho dos que se embrenham na dura floresta do saber social, a fim de oferecer melhores condições de vida?
 
Encerrando essa série, preocupo com a liberdade. Iniciamos com o sonho e falamos sobre o amor, mas sem liberdade, não há como sonhar e sem sonhar, o amor perde parte de seu sentido.   A liberdade completa os outros temas e nos traz de encontro a mais uma aspiração profunda da mente humana: ser livre.   E como acreditamos nos sonhos, no amor, na poesia e na Filosofia, encerramos com Vinícius de Morais: “O destino dos homens é a liberdade”.