A maior de todas as lições
Nesta semana, quando cristãos de todo o mundo celebram uma das mais tristes e significativas passagens da história da humanidade, somos convidados a relembrar a nossa frágil condição humana. Somos também convidados a refletir sobre o que, de fato, merece atenção nesta nossa rápida travessia pela Terra.
Quando criança, ainda morando numa pequena e pacata cidade, sentia a imensa tristeza que pairava no ar por conta das celebrações católicas da Semana Santa. A Paixão de Cristo, por mais que não pudesse ser entendida por mim em toda sua magnitude, era um claro indício de que as pessoas eram chamadas para uma reflexão sobre as ideias e ações de um homem que ajudou a mudar os rumos da história.
Em 2004 o ator e diretor Mel Gibson lançou uma obra grandiosa, que provocou muita polêmica em todo o mundo. O filme “A Paixão de Cristo”, que teve a impecável atuação de Jim Caviezel no papel de Jesus, conta as últimas horas do Filho de Deus em sua existência terrena.
Numa interpretação da própria Bíblia, Gibson levou para a telona uma das histórias mais encenadas nos dois últimos milênios. Com um elenco formado por atores e atrizes praticamente desconhecidos e rodado inteiramente em hebraico, aramaico e latim, o seu filme é uma tentativa (bem sucedida, a meu ver!) de mostrar a violência e crueldade a que Jesus foi submetido até sua morte na cruz.
A crueza das cenas é o que há de mais literal no processo de catarse, tão bem explorado nas tragédias gregas. Acho praticamente impossível alguém não sentir um turbilhão de emoções ao assisti-las... “A Paixão de Cristo” nos transporta no tempo e nos coloca na condição de espectadores das atrocidades sofridas por alguém que aceitou carregar um fardo excessivamente pesado apenas para nos ensinar a maior de todas as lições de amor. Seu sofrimento significa até hoje a nossa redenção. É um parâmetro para que possamos entender e balizar os nossos próprios padecimentos. Mais até: será eternamente o maior simbolismo na vitória do Bem contra o Mal.
Ano após ano, reforçando a tese de que nunca aprendemos a lição, a Paixão de Cristo é encenada em milhares de igrejas mundo afora. Há sempre outra chance de lembrarmos que, mesmo não tendo a divindade inerente a Jesus, somos perfeitamente capazes de assimilar suas propostas. Todas elas, sem exceção, tornariam o mundo muito melhor; todas elas são faróis a guiar nossos corpos e espíritos pelos caminhos da sanidade, na contramão da insensatez, da ganância, do egoísmo e de todos os males que nos afastam da Luz.
Ainda que isoladamente e tomados, muitas vezes, pela desesperança, que saibamos usufruir do significado da Páscoa. Que ao longo dos dias, semanas, anos e décadas de nossas vidas possamos assimilar a real mensagem deixada por Cristo durante e depois de todo o sofrimento que vivenciou. Estamos só de passagem, mas o passaporte para a caminhada espiritual que há de vir pode ser obtido ainda aqui.