A Terra sem humanos
Se a humanidade desaparecer algum dia, de repente, não fará qualquer falta ao planeta. Não me recordo mais onde vi esta frase nem quem é o seu autor, mas sei que ela é impactante.
Nenhum animal, em toda a existência da Terra, foi tão nocivo a ela quanto o ser humano. Sua mente, que fez toda a diferença no grande processo evolutivo que o colocou no topo da cadeia predatória, certamente está longe do seu estágio mais elevado. Pelo menos não a mente coletiva, que é a responsável pelas conquistas tecnológicas e também por todos os malefícios que fizemos e fazemos ao planeta.
Pesquisas sérias, como a do jornalista estadunidense Alan Weisman, mostram que se os 6,5 bilhões de humanos que habitam a Terra desaparecessem subitamente, a natureza retomaria o lugar que era seu. No seu livro “The world without us” (O mundo sem nós), Weisman levanta esta hipótese a partir de uma série de suposições (embasadas em consultas a profissionais de áreas diversas e em pesquisas de campo) e projeta a sequência de eventos que provavelmente ocorreria nos anos, décadas e séculos seguintes.
Ainda que muitos dos nossos vestígios levassem milhares de anos para se dissipar, em algum momento seria preciso uma investigação arqueológica minuciosa para encontrar indícios de uma civilização inteligente por aqui. Isto, claro, partindo do princípio de que alguma expedição alienígena aparecesse na Terra com tal intenção daqui a cem mil anos, por exemplo.
Especulações e detalhes dessa teoria à parte, o que achei interessante nos argumentos de Alan Weisman foi a sua motivação para se enveredar por tal estudo. Ele disse que imaginar o desaparecimento repentino dos seres humanos revelou ser fascinante por desarmar os temores das pessoas ou a terrível onda de depressão que pode nos envolver quando lemos sobre os problemas ambientais que criamos e os possíveis desastres que poderemos enfrentar no futuro.
“(...) Sempre que lemos sobre essas coisas, nossa preocupação é: oh, meu Deus, nós vamos morrer? Será este o fim? Meu livro elimina essa preocupação bem no começo ao dizer que o fim já aconteceu. Por qualquer motivo, nós, seres humanos, desaparecemos, então agora vamos relaxar e ver o que acontece em nossa ausência. É uma maneira deliciosa de reduzir todo temor e ansiedade. E olhar para o que aconteceria em nossa ausência é outra forma de enxergar melhor o que acontece em nossa presença (...). Eu levanto a possibilidade de os seres humanos poderem continuar fazendo parte do ecossistema de forma muito mais equilibrada com o resto dos ocupantes do planeta”, ressalta o jornalista.
Voltando à frase inicial deste texto – “se a humanidade desaparecer algum dia, de repente, não fará qualquer falta ao planeta”, triste é constatar que a nossa passagem por aqui possa servir apenas de exemplo do que não deve ser feito. Ainda que saibamos que, enquanto civilização planetária, concretizamos ideias e ideais incríveis – traduzidos em construções e artefatos para incontáveis fins, livros, músicas, filmes, peças teatrais e sofisticadas teorias políticas, nada seria mais forte do que saber que, mesmo assim, nosso instinto de destruição tenha prevalecido.
Tudo só faria sentido se, depois desta existência, constatássemos que tudo não passou de um grande laboratório espiritual, como o tempo de escola na vida de uma pessoa. Por este prisma, todas as nossas experiências enquanto homo sapiens – do início ao fim da humanidade – seriam absolutamente essenciais para a trajetória de cada espírito em outros planos.