O mundo é dos resilientes
Desde que tive contato pela primeira vez com a palavra “resiliência”, há cerca de uma década, tento fazer jus ao seu significado. Convenço-me a cada dia de que o mundo é dos resilientes.
Para quem não sabe o que é resiliência, trata-se de um conceito oriundo da física ligado à propriedade que alguns materiais apresentam de voltar ao normal depois de submetidos à máxima tensão. Fibras de nylon, por exemplo, recuperam a forma assim que acabam de ser pisadas.
As baratas talvez sejam, entre todos os animais, os mais resilientes, já que vêm atravessando os milênios com uma incrível habilidade de resistir ao ambientes mais hostis. Há teorias científicas que as colocam entre os seletos seres capazes de sobreviver à radiação atômica.
Pulando essa parte, e deixando para Clarice Lispector e Franz Kafka a proeza de dar status literário à barata, busco aqui a abordagem do sentido figurado da resiliência. Algo bem mais próximo dos estudos psicológicos que defendem uma suposta capacidade que algumas pessoas têm em ficar ainda mais fortes depois de expostas a situações adversas.
Há psicólogos que defendem ser a resiliência algo inato, uma espécie de dom. Neste grupo estão vários especialistas que estudaram o comportamento de pessoas que viveram em comunidades atingidas por enchentes, terremotos, perseguições raciais, guerras e violências generalizadas. A conclusão a que chegaram é de que entre elas algumas se saem bem, ao contrário de outras.
Indo por outra linha, outros estudos apontam que a resiliência pode ser construída, e quanto mais cedo ela for incentivada, mais sólida tende a ficar. A ideia é “vacinar” as pessoas para que elas consigam ficar mais resistentes às “doenças” no futuro. Neste caso se deve entender “vacina” como a assimilação de dores e problemas, e “doenças” como os obstáculos que, de uma forma ou de outra, sempre se repetem.
Um grupo de adeptos da resiliência adquirida realizou em escolas de Nova York, em 2003, um estudo interessante nesse sentido. Dois anos após os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, que abalaram os Estados Unidos e o mundo, foram distribuídas dois milhões de cartilhas a crianças entre 8 e 11 anos com o objetivo de dar a elas instrumentos básicos para que possam ter resistência na passagem para a vida adulta. Psicólogos que atenderam especificamente os filhos das vítimas do atentado às torres gêmeas atestaram a eficácia deste tipo de intervenção.
Numa tentativa de aplicar os princípios da resiliência em minha vida, tenho procurado entender as crises que surgem no exato momento em que se instalam. Sejam elas espirituais, emocionais ou financeiras, as crises trazem em si uma oportunidade impar para superarmos nossos próprios limites. Não que devamos procurá-las deliberadamente, mas, sim, encará-las como oportunidades de crescimento.
Os resilientes não se entregam, mesmo diante das guerras, das recessões econômicas ou das muitas portas fechadas que encontram ao longo da vida. Eles entendem que não é retrocesso dar um passo atrás, desde que este seja um impulso para vários deles à frente.