Paz feita de dignidade
Para quem vive num modelo de sociedade capitalista, não é tarefa das mais fáceis encontrar uma relação direta entre os temas economia e paz. Exatamente por isto foi tão difícil para muitos entender o critério de escolha do Prêmio Nobel da Paz de 2006.
Hoje, com quase 70 anos, o economista e banqueiro bengalês Muhammad Yunus teve seu nome escolhido pelo Comitê Norueguês do Nobel para faturar o badalado prêmio daquele ano por um trabalho original, realizado há mais de três décadas. Fundador do Banco Grameen (que significa “aldeia”), Yunus criou bem mais do que uma instituição financeira que empresta dinheiro para as pessoas pobres, a juros bem abaixo dos praticados pelos bancos convencionais. Ele praticamente lançou um novo conceito de crédito pessoal, utilizado atualmente em mais de quarenta países.
O fantástico do seu sistema de microcrédito, que permite a muitos pobres terem acesso a pequenas quantidades de dinheiro, é o fato dele apostar em pessoas tidas como derrotadas e genuinamente suspeitas para a maioria das instituições financeiras convencionais. Vale ressaltar que o Grameen Bank tem atualmente mais de 6,5 milhões de clientes, dos quais 96% são mulheres. Estas buscam empréstimos, segundo Muhammad Yunus, para iniciar pequenos negócios domésticos – a maioria determinante para a melhoria da renda familiar.
Assim que recebeu a notícia de que havia sido escolhido como Nobel da Paz de 2006, o banqueiro declarou que “uma paz duradoura não pode ser obtida sem que uma parte importante da população encontre os meios para sair da pobreza.” Uma declaração simples, mas bem pouco praticada pelos mandatários do planeta. Aliás, uma parte considerável deles é formada por tiranos, insanos e burocratas.
Yunus é um contraponto a governantes como Kim Jong-II – presidente vitalício da Coréia do Norte, que imprime a seu povo um regime de fome e isolamento, enquanto investe pesado em armas e se empanturra de caviar iraniano. Sim, os indivíduos fazem diferença nos rumos da humanidade...
Infelizmente, decisões importantes para dezenas de milhões de pessoas nos quatro cantos da Terra dependem muito de figuras controversas como Kim Jong-II, George Bush, Fidel Castro, Hugo Chavez, entre tantos outros oficiais e não-oficiais do mesmo calibre. Sob o comando destes homens estão exércitos, polícias e mesmo armas de destruição em massa. Que Deus nos proteja!
Nunca haverá paz mundial enquanto houver tirania, pobreza e ignorância em cada nação. Para a existência da primeira é preciso que as duas últimas continuem sendo alimentadas. É exatamente por isto que eu, mais do que nunca, acredito nas transformações sociais que passam diretamente por ações de indivíduos isolados ou de entidades desligadas de iniciativas governamentais.
Claro que não se trata de desconsiderar o papel do Estado e dos poderes legalmente constituídos na melhoria de vida dos povos, das nações. É simplesmente não depender deles para agir, para ajudar, para mudar a realidade onde cada um está inserido.