Conselhos da Antiguidade
Dos muitos modismos que surgem o tempo inteiro na música, na moda, no comportamento, um tem me deixado particularmente feliz. A Filosofia voltou a ganhar espaço na educação formal, nos círculos informais de debate e até mesmo na mídia.
Não que eu ache que seja apenas um modismo, uma situação superficial e passageira, mas confesso que desconfio bastante de que a Filosofia continue fora do rol das prioridades dos mandatários e personalidades influentes do Brasil e do mundo. Não por acaso a disciplina foi banida dos currículos escolares por mais de duas décadas e meia, durante a ditadura militar. Ensinar as crianças e jovens a pensarem e a terem senso crítico era tudo que os sucessivos governos militares não queriam.
Sendo assim, torço para que as novas gerações tenham a oportunidade de beber nesta fonte tão rica de ensinamentos fundamentais para uma vida melhor. É claro que não é apenas na Filosofia que tal aprendizagem pode ser obtida, mas não dá para negar que ela foi o berço da cultura e do pensamento ocidentais em seus temas mais profundos e significativos.
No final de janeiro de 2007 a revista Época trouxe a seguinte matéria de capa: “Felicidade: como a Filosofia pode nos ajudar a viver melhor”. Nada mais atual e universal do que manter aceso o debate sobre um assunto ainda tão instigante.
A reportagem, de oito páginas, traz uma série de temas abordados por filósofos famosos ou pouco conhecidos, numa perspectiva de dar ao leitor a noção de atualidade da Filosofia. Algo como afirmar que nenhuma idéia é ultrapassada se houver oportunidade de aplicá-la à vida.
Um exemplo citado pela revista foi o do filósofo grego Demócrito (460 a.C. a 370 a.C.) – o mesmo que deu as primeiras pistas acerca da existência dos átomos, numa época em que sequer havia instrumentos que pudessem auxiliá-lo na comprovação desta teoria. Em um livro chamado “Sobre o Prazer”, Demócrito dá a “receita” básica para se alcançar a felicidade. “Ocupe-se de pouco para ser feliz”, aconselhou o pensador. Ele quis dizer que grande parte da angústia que assola o ser humano vem da sua voraz necessidade de se ocupar com mais do que pode dar conta. Para se ter idéia da gravidade disto nos dias de hoje, basta dizer que a maior parte das crianças (principalmente as das classes média e alta) possui uma agenda capaz de empanturrar qualquer adulto.
Outro filósofo abordado, Zenão (333 a.C. a 264 a.C.), pregava que a felicidade estava diretamente ligada a uma vida simples (ligada à natureza) e à aceitação das adversidades. Fundador do Estoicismo (um dos pilares do Cristianismo), ele dizia que os tropeços são inevitáveis e acontecerão necessariamente na vida de todas as pessoas. Negá-los ou fechar os olhos para eles só piora o estado de espírito. Aceitá-los e encontrar neles um caminho para o próprio fortalecimento interior são atitudes recomendadas por Zenão.
Finalmente, para os que passam a maior parte de seus dias preocupados com o que o amanhã lhes reserva, o filósofo Epicuro (341 a.C. a 270 a.C.) foi taxativo ao sugerir que “o homem sábio cuida do dia de hoje” e que “não se preocupar com o que vem pela frente é uma das maiores marcas de sabedoria”.
Há muito que se aprender com os pensadores da Antiguidade; há muito de atual na Filosofia de todas as épocas. Nenhuma tecnologia é mais extraordinária do que o pensamento. Ele é o nosso diferencial com relação aos demais animais; é o melhor patrimônio da nossa civilização, mas pode também ser a nossa sentença de extinção. Saber pensar com clareza e maturidade continua sendo o principal desafio da raça humana.