O tema da natureza no Romantismo, no Naturalismo e no Impressionismo.

Na pintura desenvolvida pelos diferentes movimentos artísticos ao longo do século XIX, a natureza, enquanto tema, foi objecto de diferentes tratamentos. Assim, embora o Romantismo tenha influenciado os movimentos artísticos que se seguiram, o tratamento dado ao tema em questão acabou por ser diferente em movimentos como o Naturalismo e o Impressionismo.

O Romantismo foi um movimento artístico, político e filosófico que surgiu na Europa e nos Estados Unidos da América nas últimas décadas do século XVIII, tendo perdurado durante grande parte do século XIX. O nome deste movimento decorre do termo “romance” (história de aventuras medievais), que, respondendo ao crescente interesse pelo passado gótico e à nostalgia da Idade Média, teve uma grande divulgação no final do século XVIII. Inicialmente, começou por tratar-se apenas de uma atitude e de um estado de espírito, mas, mais tarde, acabou por assumir a forma de um movimento, passando a designar toda uma visão do mundo centrada no indivíduo e sustentada filosoficamente em três pilares: o individualismo, o subjectivismo e a intensidade. Assim, contra a ordem e rigidez intelectual clássica, os artistas deste movimento imprimiram maior importância à imaginação, à originalidade e à expressão individual, através das quais acreditavam poder atingir o sublime e o genial. Esta nova visão romântica do mundo trazia associada a ideia de que a natureza era inspirada pelo espírito divino, que a imaginação humana podia fundir-se com a estrutura universal e que a mente criativa, sendo profundamente solitária, ansiava pela harmonia entre o homem e a natureza.

A pintura romântica foi uma nova forma artística de representar o homem e a natureza. Neste sentido, a natureza aparece como um dos temas principais, expressa através da pintura de paisagem, onde os artistas transmitem os seus estados de espírito e as suas emoções, em cenas que chegam a atingir grande carga dramática. Assim, paisagens rurais e marítimas tornam-se temas centrais da pintura ou servem de enquadramento a cenas figuradas, estabelecendo um ambiente nostálgico ou dramático entre as personagens e o fundo paisagístico. O ambiente dramático é, normalmente, dado pela representação das forças da natureza, sob a qual o homem está irremediavelmente à mercê. Relativamente ao ambiente nostálgico e sonhador, este é muitas vezes marcado pela representação de ruínas no meio de uma natureza luxuriante, que se revela indiferente aos destinos dos homens.

Em termos formais, a pintura romântica caracteriza-se por: uma composição em pirâmide dinamizada por linhas oblíquas gerando ritmos e sugerindo movimento; pinceladas largas e sinuosas, que acentuam o dinamismo da composição; contrastes fortes de claro-escuro e de cor; utilização das virtudes expressivas da cor, por oposição ao desenho frio e calculado do Classicismo.

O Naturalismo é um movimento estético e literário da segunda metade do século XIX, estreitamente relacionado com o Realismo, do qual retoma a necessidade da observação objectiva da realidade. Assim, o principal objectivo deste movimento é a imitação exacta da natureza, que é entendida como causa de tudo o que existe. Uma das principais influências deste movimento artístico foi a pintura de Constable, paisagista inglês associado ao movimento romântico, que ficou conhecido pelas suas paisagens cheias de sentimento, reprodutoras bastante fiéis dos “estados atmosféricos”, que impressionaram pela sua aproximação da realidade. A apresentação das suas obras no Salon de Paris, em 1824, surpreendeu a geração romântica francesa e abriu, dessa forma, caminho para o Naturalismo, que cultivava o gosto pela natureza concreta, pela sua observação e análise directa e pelo registo fiel da realidade. Neste sentido, os pintores deste movimento passaram a interessar-se cada vez mais pela representação da vida quotidiana e dos seus acontecimentos triviais, bem como a procurar inspiração na observação directa da natureza, que é pintada no local e com toda a autenticidade. Assim, a sua temática passa a ser determinada pela pintura ao ar livre (a paisagem, cenas da vida e do trabalho no campo), sendo a pintura executada no local e observando directamente o motivo a representar, bem como a luz e a cor local.

Este movimento artístico teve o seu principal foco de desenvolvimento na chamada “Escola de Barbizon”, onde, por volta de 1846, um grupo de pintores se reuniu na floresta de Fontainebleau, procurando um contacto mais próximo com a natureza, partilhando directamente as suas manifestações e observando os seus mais ínfimos detalhes. Deste grupo faziam parte pintores como Théodore Rousseau, Charles Daubigny e Camille Corot, entre outros, que contribuíram em força para o desenvolvimento da pintura naturalista. A estética naturalista, abrangendo a representação de tudo o que realmente existia, acabou por estender-se a temáticas tão diversas como paisagens bucólicas ou marinhas (através da representação de motivos marítimos) e aos ambientes populares ou cenas do quotidiano urbano e burguês.

O Impressionismo nasce em Paris por volta de 1865, embora só surja publicamente em 1874, numa exposição no estúdio de Nadar (Gaspard Félix Tournachon, de seu verdadeiro nome). Esta exposição colectiva exibiu obras de “independentes”, ou seja, à margem do Salon. A princípio os pintores impressionistas confundiam-se com os naturalistas, porque, por um lado não reclamavam uma identidade própria e, por outro lado, não constituíam um grupo coeso. A designação “Impressionismo” é mais uma forma taxionómica de classificar estes artistas, porque, ao contrário que aconteceu com os movimentos artísticos precedentes, não produziram manifestos, não produziram formulações teóricas, não foram uma escola e não foram um movimento homogéneo com uma teoria clara. O Impressionismo resultou, antes de mais, de um encontro de personalidades, diferentes entre si, com um novo gosto, unidos pela mesma forma de sentir e pela mesma intenção anti-académica.

Com os impressionistas, tal como foi referido anteriormente, surge essencialmente um novo gosto, uma forma pessoal e inédita de ver e reproduzir o visível de forma sugestiva, espontânea, liberta da literatura e dos simbolismos, liberta dos rígidos e obsoletos cânones tradicionais e da pintura comemorativa. Muito influenciados pelo Realismo e pelo Naturalismo, acrescentaram uma modificação da estrutura artística tradicional: não havia representação fiel da natureza. Procuram, antes, captar a verdade perceptiva e sensível da natureza, o que constituía um elemento revolucionário devido à alteração do modo de ver a natureza e o mundo exterior (tratava-se da reprodução dessa visão com imediatismo temporal e sensível, procurando captar o instante de uma realidade em constante movimento). Assim, o tema deixa de ser importante, passando a ser um mero pretexto para reproduzir um instante irrepetível de vida fenoménica e atmosférica. Os assuntos que representavam eram momentos de ócio e de festa em que participavam, tardes de domingo, passeios no Sena, cafés, restaurantes ao ar livre, mas em festa. Daí também lhes terem chamado “pintores da vida moderna”. No entanto, todos estes temas não eram mais do que meros pretextos para captar sugestões visuais. Não obstante a variedade de temas que utilizavam, a expressão mais própria do Impressionismo foi a pintura de paisagem: representaram o Sol, a água, os reflexos, ou seja, as impressões de deslumbramento das cores e das formas que a natureza lhes oferecia. Esta pintura caracteriza-se, de uma maneira geral, pelos seus contornos flutuantes e esfumados, pela sua forma pulverizada e por provocar a fragmentação da visão. Características que conduzem a profundas inovações formais: apercebem-se que a luz não é um elemento homogéneo e compacto, mas antes constituído por uma série de valores cromáticos puros; experimentam a decomposição das cores, que não são misturadas previamente na paleta, mas fixadas directamente na tela, fragmentando os tons e as pinceladas; descobrem que, na natureza, as sombras não são ausência de cor (isto é, uma uniformidade escura), mas uma intensidade cromática diferente, com matizes lilases; passaram a considerar o preto como uma cor igual às outras e não como uma não-cor; prescindiram do jogo claro-escuro (só a cor tem a tarefa de definir o espaço e as fronteiras entre as imagens); abandonaram a linha de contorno; as cores são aplicadas em pequenas pinceladas coloridas, destinadas a combinar-se na retina do receptor.

Fontes e Bibliografia:

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