Luiz Lua Gonzaga - Discografia do Rei do Baião
Introdução do Autor
“Januário corre para o terreiro e destamboca no ôco do mundo o papôco mais violento que se ouviu por aquelas bandas. Tão violento que arrebentou o cano do bacamarte: -Mas, também, em volta de 3 léguas não tem filho duma égua que não tenha escutado... Só se for mouco.-É macho, com documento e tudo - anunciava Januário, feliz com o nascimento do seu segundo filho. Veio o dia do batizado. O vigário perguntou o nome do pai: Januário José dos Santos. Nome da mãe: Ana Batista de Jesus, mas pode chamar de Santana. Dia do nascimento: Dia de Santa Luzia, 13 de Dezembro de 1912. Nome da criança: Luiz. Vai ser Luiz de que? Luiz Januário tá bom? O vigário sorriu e resolveu sugerir: Já que é Luiz, que tal completar o nome do santo? Fica Luiz Gonzaga. E como nasceu no mês do nascimento de Jesus Cristo, fica Luiz Gonzaga do Nascimento. Que tal? - É, se padrinho vigário diz......E ficou Luiz Gonzaga do Nascimento, afilhado de Dona Neném e Seu João Moreira Alencar, gente rica do lugar”.
(Transcrito do encarte do LP de 10 polegadas LUIZ GONZAGA - HUMBERTO TEIXEIRA, História da Música Popular Brasileira - Abril Cultural - 1970.)
O baião corria solto em meados de 1951 e a família Mendes, em Caruaru (Pe), através de D. Alcina, preservava o sucesso de Luiz Gonzaga comprando imediatamente o disco novo assim que aparecia na Praça. Na época, era de 78 rpm. Os sucessos de Gonzaga se sucediam e a ordem continuava no clã de Raimundinho: comprar o disco novo do Rei, que dividia com Dalva de Oliveira e Augusto Calheiros a preferência da casa.
“Seu Luiz”, como chamava D. Alcina, sempre que chegava em Caruaru, visitava João Torres e, como a casa era vizinha, ele sempre entrava para cumprimentá-la ou mesmo, como de costume, para “cutucar” as panelas.
Aí a afinidade, aí o conhecimento e daí a “Gonzagomania,” que depois tornou-se “Gonzagolatria”. Falar da vida de Luiz Gonzaga seria aumentar o acervo de trabalhos neste gênero já elaborados e, diga-se de passagem, de boa qualidade.
Assim, com o intuito de pesquisar a sua discografia, iniciamos uma árdua tarefa: encontrar o máximo de discos possível para deles tirarmos as informações necessárias, e para que não houvesse sombra de dúvida quanto aos dados, preocupamo-nos em fazê-lo compilando os rótulos dos discos.
Segundo informações colhidas e inclusive encontradas em biografias do Rei, a sua discografia é difícil de ser avaliada porque ele próprio não possuía um controle do seu trabalho. Daí termos que partir para solicitar a cooperação de colecionadores, vendedores de sebo de discos, emissoras de rádio e tudo mais onde houvesse alguma coisa que nos trouxesse informações.
A força da música de Luiz Gonzaga é imensurável. O desconhecido torna-se íntimo; o carrancudo, afável; o “chato”, absolutamente aberto, gerando um mundo altamente interligado, sumindo qualquer forma de distância entre os “doentes “ pelo Lua.
Um adendo torna-se também necessário no tocante à grafia dos títulos das músicas, como também dos nomes próprios. Procuramos reproduzir o que foi impresso nos rótulos e capas dos discos pesquisados. Daí encontrarmos no nosso trabalho, por exemplo: Dansa Mariquinha (Dança), O Xamego de ou da Guiomar, O Casamento de Rosa ou Casamento de Rosa, Siri e Sirí, Tocadô e Tocador, Giló e Jiló, Sangue de Nordestino ou Sangue Nordestino, assim como a situação dos nomes dos compositores, como por exemplo J. Portela (Portella), Hervê Cordovil (Herve), Armando Cavalcanti (A. Cavalcanti) etc. O mesmo acontece com os compositores com relação ao posicionamento dos seus nomes nos rótulos e capas dos discos pesquisados. Alguns discos apresentam os nomes dos compositores trocados, com relação a composição e música. Assim, poderemos encontrar, por exemplo, Respeita Januário tendo como autores Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira e em outro local tendo como autores Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga.
Quanto às participações especiais, acreditamos que existam mais alguns discos que não conseguimos localizar. Tivemos informações de discos assim intitulados: Súplica Cearense, Uma Noite No Forró, Forrózando Vols. 1 e 2, Os Papas do Forró, e outros, nos quais Luiz Gonzaga teria gravado Cantarino, Baião de São Sebastião, Paraiba, Asa Branca, São João na Roça, Olha Pro Céu, Forró do Mané Vito, respectivamente. Mas não conseguimos localizar os ditos Lps. Daí a omissão dos mesmos no nosso trabalho. Fica aqui nosso registro e queremos chamar a atenção dos usuários do nosso livro para o fato de que qualquer trabalho de pesquisa que envolva números poderá apresentar diferenças principalmente se levarmos em conta a máxima: os números são frios. Tentamos acertar nos dados, mas não somos infalíveis e poderemos ter cometido algum deslize. Não há, contudo, intenção de nossa parte de explicar algum engano. Poderemos ter cometido erros, mas fizemos o possível para evitá-los. Procuramos por todos os meios compilar informações precisas. Afinal de contas, é um trabalho inédito em que encontramos o mais absoluto conjunto de elementos sobre a discografia do pernambucano de Exú que maravilhou o nosso Brasil com sua música, seu carisma e sensibilidade. Foram muitas horas de sono, muitos telefonemas, viagens, abusos aos amigos, muito papel gasto, muita tinta e, principalmente, muita ajuda de uma máquina sem a qual talvez nada tivesse sido feito: Freud, o nosso computador.
A sorte está lançada. O material está aí. O julgamento é livre.
Uéliton Mendes da Silva
Início do Inverno de 1997
Itabaiana(Se)
Continuaremos ...