Tudo por dinheiro
Pelo nono ano consecutivo a Rede Globo enfia goela abaixo de milhões de telespectadores mais uma edição do Big Brother Brasil. Outra vez a maior emissora do país cobre as férias de seus principais programas noturnos com a desgastada fórmula da espionagem de candidatos à fama, confinados numa casa-cenário onde homens e mulheres fazem desfiles diários de corpos nus, insinuações sexuais e noções básicas de fofocas e picuinhas.
Poucos programas na TV brasileira têm longevidade tão grande. De qualquer forma, não se pode atribuir à Globo a inteira responsabilidade pela continuidade de algo tão improdutivo e com formato tão previsível (nem o Zorra Total, que mantém o emprego de velhos e novos humoristas, é tão sem graça!). Triste é constatar que se o BBB9 está no ar é porque dá audiência, já que o sucesso ou fracasso de algum programa é medido pelo seu “ibope”.
O Big Brother Brasil já nasceu de baixo nível. Falar de baixaria nele é até redundância! É a cara de um país que não se leva a sério. Se um telespectador somar todas as horas que se dedicou para assistir aos capítulos diários dessa novela enfadonha perceberá que perdeu um tempo precioso que poderia ter sido bem melhor aproveitado.
O resultado disso tudo é, na verdade, uma dolorosa constatação de que no Brasil são considerados vencedores os que correm atrás das portas abertas para a fama ocasional e fugidia; os que topam tudo por dinheiro (e não se envergonham de declarar isto diante das câmeras!); e os que apostam no caminho mais curto para a notoriedade (de preferência a que não precisa de anos de estudo sério e trabalho árduo).
Infelizmente, assim como os BBBs, muitos são aqueles que fazem tudo para ficar sob a luz dos holofotes e sob o calor dos aplausos. A vaidade humana quase sempre extrapola as raias da normalidade quando o assunto é fama e dinheiro.
É normal, por exemplo, um artista querer divulgar seu trabalho profissional e buscar com ele o reconhecimento do seu público. Ao contrário, é lastimável saber que existem tantas pessoas que propagandeiam a filantropia que fazem.
É normal administradores públicos ou de empresas privadas gostarem de ouvir elogios pelos feitos realizados. Por outro lado, é abominável encontrar políticos que tentam brilhar de qualquer forma, ainda que seja usando a “luz” dos outros.
Não foi por acaso que o filósofo grego Sócrates deixou na frase “só sei que nada sei” o resumo de um legado sobre a verdadeira sabedoria. Aqueles que perseguem a maturidade sabem que ela está sempre por vir e que o anonimato pode ser a única forma segura de continuar sendo autêntico e tendo espaço para crescer.
A fogueira da vaidade queima em quase todos os lugares. Nas artes, na política, na família, na escola e nas religiões não param de ser forjados homens e mulheres capazes de tudo para se sobressaírem a qualquer preço. Isto talvez explique a longevidade de um programa de TV tão vazio como o BBB. Sua principal mensagem? Por um milhão de reais vale tudo: mentir, caluniar, trair, vender o corpo e tantas outras afrontas a regras sociais de boa convivência. Se o programa é um mero jogo para a Globo e seus patrocinadores, para muitas pessoas do outro lado da telinha é um modelo do melhor atalho para o que se pensa ser o alto do pódio.