PARA ONDE SEMPRE VOLTO

Acabo de chegar de Peruíbe (SP), para onde sempre volto.

Tem sido assim desde os meus 6 anos de idade, quando vi o mar pela primeira vez na cidade cujo padroeiro aniversaria comigo. Aos pés da escultura de São João fiz a minha primeira pose para foto. Chorando, com medo de cair lá do alto.

Minha família ficava hospedada no lar de Cândida e Bento. O casal anfitrião morava perto da estação ferroviária, numa casa de madeira muito limpa, rodeada de flores. Éramos recebidos com simplicidade e bondade e nem parentes éramos do ferroviário Bento e da benzedeira Cândida.

Eu e meu irmão dormíamos à luz de vela e tomávamos banho de canequinha porque na casa não havia água encanada, nem luz elétrica e muito menos chuveiro. Mas no lar de Cândida e Bento havia comida cheirosa, roupa limpinha e acolhimento.

Dormíamos sonhando com castelos de areia enfeitados que o mar encomendaria para uma onda vir buscar. E nossas mãozinhas empreendedoras entregavam às ondas do mar quantos castelos fossem encomendados por ele. Cinco, seis, oito por dia. O dono-mar adorava encomendar os castelos que fazíamos cada vez mais altos e enfeitados.

Hoje, a casa de Cândida e Bento não existe mais. Eles também não estão mais entre nós. Nem papai. Mas o mar, as praias e as conchinhas continuam lá. E não faltam crianças empreendedoras erguendo todos os dias paredes de castelos que uma onda mansa e branca transformará em lembrança o que já foi real.

Sabe quem eu vi por lá?

O Tobby verdadeiro. Quase seis anos depois de eu tê-lo visto pela primeira vez na praia, brincando de correr atrás dos amigos pássaros da "esquadrilha da fumaça".

Conheci os verdadeiros donos do Tobinho. [como carinhosamente as crianças chamam o protagonista das minhas histórias, inspirado no cão Tobby]

Cibele e Orlando são os donos do Tobby verdadeiro. Verdadeiro? Sim. Toby existe. É um genuíno cão-caiçara. Como todo bom anfitrião, foi a primeira figurinha avistada por mim quando cheguei na praia do Arpoador. Ele estava na calçada, em posição de alerta, com os olhos na direção da linha do horizonte que divide o azul do céu, do azul do mar.

Os donos nem sabiam que o seu cão não só me inspirou a escrever histórias para crianças mas inspirou projeto pioneiro em acessibilidade à leitura. A Coleção Toby é a primeira transcrita e impressa em braile. É a primeira a ser baixada na web, para leitura livre, por meio do site Rede Saci-USP. Também é a primeira coleção alternativa de livros gravada em MP3 para ser ouvida em CD.

Cibele e Orlando ficaram emocionados com a notícia. Sempre souberam que o "seu filho" tem muito valor. Tobby fora adotado por eles na mesma época em que eu o conheci na praia. São muito diferentes dos donos do Toby na ficção. Ao contrário de Constança e Lalo, cuidam dos seus cães com muita dedicação.

Cães? Pois é... Agora Tobby divide o amor dos donos com um jovem cão de nome Skip.

Quem é Skip? É o filho do Toby. Um corredor, como o pai. Entre os segredinhos do Tobby contados pela Cibele está esse filho que mal sabia andar quando pequenino apareceu com o pai para uma visitinha surpresa ao "vovô" e a "vovó".

Também fiquei sabendo que Tobby aniversaria no Dia das Crianças. Foi quando Cibele o resgatou das ruas e o adotou. Eu sempre lancei meus livros na véspera ou no Dia das Crianças sem saber desta feliz coincidência. Coincidência? Não sei. Creio na sincronicidade. Na convergência.

A edição de 12/11/06 do jornal "O Mirante" (circula em Peruíbe e na Baixada Santista) publica matéria sobre o meu encontro com Tobby e seus donos, seis anos após eu tê-lo visto na praia, pela primeira vez. O jornalista e escritor Marco Asa registrou esse encontro na aconchegante e bonita casa onde Tobby vive com o filho e os donos. Muito diferente da casinha simples onde vive o Toby da ficção. Veja fotos da visita no meu blog em http://gpecchio.blogspot.com