A MORTE É CERTA PARA AS GRANDES ÁRVORES NA CIDADE DE OSASCO

Por Gisele Pecchio

Estava indo ao encontro de crianças e pais, na Livraria Cultura, para autografar o lançamento "Uma Aventura na Amazônia – Raycha" livro escrito com orientação do geógrafo e respeitado ambientalista Prof. Aziz Ab’Sáber (FFLCH/IEA-USP) quando me deparei com uma passeata política, supostamente em favor do meio ambiente, na cidade de Osasco. Fiquei parada diante do semáforo e dos manifestantes na rua Dante Battiston, no cruzamento com a rua Dona Primitiva Vianco. Alguns metros atrás do meu carro, na calçada, coberto de lixo e dejetos humanos – marcas da ignorância e falta de educação – estava o pedaço que restou do caule da última grande árvore do extinto quadrilátero verde da região central.

Para quem não é daqui ou para quem não tem compromisso com a cidade, fato não raro entre muitos que detém o poder de dar um basta na poda mutilatória e no corte de árvores, a belíissima ex-sobrevivente da grande flora era um frondoso condomínio de pássaros que ainda voam em torno do local na busca inútil dos braços verdes que lhes ofereciam abrigo.

Em julho deste ano, do outro lado da rua, foram abatidas, após várias sessões de tortura e mutilações, frondosas seringueiras que deveriam ter sido preservadas e tombadas.

O respeitado Prof. Ab’Sáber, geomorfologista reconhecido no mundo todo pelas suas contribuições à ciência, defende com veemência a urgência de previsão de impactos em projetos desenvolvimentistas, “uma exigência da ciência, da cultura e da ética”, segundo ele.

No caso das grandes árvores que vêm sendo mutiladas e abatidas, no centro de Osasco, a desculpa parece ser o cupim e os fios da rede elétrica. Ora, o cupim pode ser evitado ou eliminado e a manutenção na rede elétrica é muito bem paga pelo contribuinte, que deveria exigir fiação subterrânea para preservar o meio em que vive e cria os seus filhos, cada vez com menos referência da história e geografia do lugar em que vivem devido a essas constantes e grosseiras intervenções no espaço urbano.

Restos dos caules das seringueiras sacrificadas estão ardendo em chamas e fumaça, outra ação criminosa. Qualquer estudante sabe, ou deveria saber, na ponta da língua, porque não devemos abater as árvores e muito menos provocar queimadas. É certo que a ignorância está na moda, senão a lei municipal que proíbe soltar fogos de artifício e fazer barulho nos arredores dos hospitais seria respeitada por políticos e empresários, para o conforto dos convalescentes [como aqueles que estavam no Hospital Municipal Antonio Giglio na manhã da última sexta, quando inauguraram uma loja de roupas no Calçadão com uma grosseira e desrespeitosa queima de fogos].

Por falar em lei, já escrevi sobre isso em outro artigo mas é bom lembrar que se depender da branda lei 3995, que disciplina o corte, a poda e o replantio de árvores na cidade de Osasco, a sanha dos devoradores da expressão máxima da beleza da criação divina, que é o reino vegetal, vai continuar, sem limites. E para piorar, nos dispositivos que norteiam o uso do solo na cidade de Osasco ainda não é obrigatório reservar percentual de área permeável.

Ao lançar um livro sobre a Amazônia, para crianças, com orientações de um geógrafo que é referência mundial na defesa das boas práticas ambientais, um defensor do princípio de que devemos nortear nosso trabalho a partir da microregião que nos é dada habitar, eu não poderia deixar de fazer esse registro na expectativa de que algo possa ser feito para salvar a ética, os valores e os princípios, sem os quais não dá para salvar o meio em que vivemos e ser digno de láurea alguma. gisele.jorn@uol.com.br

No Blog http://gpecchio.blogspot.com há uma sequência de fotos que mostra parte das sessões de mutilação, agonia e morte de uma representante da nobre linhagem da flora. Depois de morto o vegetal, ainda recebeu o escárnio de alguns seres humanos que seguem o paradigma da atualidade: a ignorância. Artigo de dezembro/2008

GiselePecchio
Enviado por GiselePecchio em 10/01/2009
Código do texto: T1377886
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