Cartas (insanas) de amor

Quando se fala em carta de amor logo vem à mente o ideal de romantismo, capaz de misturar dedicação com uma dose extra de paixão arrebatadora. Talvez este estereótipo realmente fizesse sentido em épocas marcadas pelo ideal romântico de amor declarado e compartilhado.

Muito provavelmente ainda há aqueles que, por carta, e-mail ou sites de relacionamento, declarem seus sentimentos sinceros por alguém. O que fica difícil compreender é a existência de pessoas capazes de enviar cartas de amor para alguém que sequer pode ser chamado de humano.

Há bem pouco tempo li num site de notícias a seguinte manchete: “Preso, Fritzl recebe centenas de cartas de amor”. O destinatário das missivas não é ninguém senão Josef Fritzl, o engenheiro elétrico de 73 anos que manteve a filha Elisabeth durante 24 anos presa no porão da própria casa, na cidade de Amstetten, na Áustria. Ele não só a estuprou como teve sete filhos com ela.

A notícia das correspondências, que circulou em jornais de todo o mundo, dava conta de que aproximadamente duzentas mulheres se ofereciam para viver um romance com o austríaco. As tais cartas de amor estavam no meio das cerca de cinco mil outras destinadas ao maníaco, que está na prisão St. Poelten, em Viena, desde que foi detido no final de abril deste ano. A maioria, como era de se esperar, são de pessoas repudiando o seu ato monstruoso.

De qualquer forma, duzentas cartas de amor para alguém que foi capaz de incesto, cárcere privado e até de homicídio (seu sétimo “filho-neto” morreu pouco depois do parto, por falta de cuidados médicos) é o bastante para qualquer estudo acadêmico sobre a loucura. Será que as tais apaixonadas têm uma existência tão solitária e triste a ponto de aceitarem se entregar a alguém capaz de tamanhas atrocidades? Ou será pura perversão sexual?

Vale ressaltar que um relatório psiquiátrico confirmou que Josef Fritzl está em plena posse de suas faculdades mentais, o que descarta que o acusado sofra de algum tipo de doença mental. Na prática, isto significa que suas atrocidades são ainda mais abomináveis.

Durante uma avaliação psiquiátrica, o austríaco teria afirmado que "nasceu estuprador". Ele foi mais além e disse o seguinte à psiquiatra forense que o atendeu na prisão: "percebi que tinha uma veia para a maldade. Para alguém nascido para ser um estuprador, até que eu agüentei por muito tempo". Constam no relatório médico que Fritzl foi criado apenas pela mãe, sem a presença de um pai; e que explosões de agressão, desprezo e desinteresse materno teriam marcado a sua infância.

Além de tudo o que já se sabe dele, Josef Fritzl está sendo acusado de ter mantido sua própria mãe encarcerada no sótão de sua casa durante vinte anos, fechando as janelas com tijolos para que ela nunca mais visse a luz do dia. Ainda de acordo com o relatório da psiquiatra forense, a raiva pela mãe teria motivado o criminoso a ter uma atitude dominante sobre as mulheres.

O que se pode concluir de toda essa história de terror é que envelhecer só será sinônimo de maturidade se o amadurecimento se der ao longo da vida. Caso contrário, a velhice sedimentará os piores defeitos, os vícios acumulados durante a caminhada. Aí aparecerão inúmeras versões de Fritzl ou mesmo das dezenas de mulheres que escreveram para ele cartas de amor.

Roberto Darte
Enviado por Roberto Darte em 28/11/2008
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