"SEXO - O SENTIDO DA VIDA"
Primeiro você nasce.
Você é um ser humano em miniatura que sai da vagina de um outro ser humano que você a partir desse dia chama de mãe.
Quer dizer, não chama de nada porque você vai precisar de um tempo ainda pra desenvolver a linguagem humana, mas a partir desse dia vão te dizer que essa senhora que guardou você na barriga é sua mãe e que você tem que chamar ela assim.
A mãe é uma figura central na sua vida, ela vai te dar leite quando você ainda é bem pequeno e não sabe o que quer.
O leite é produzido naquela região do peito que é bem diferente e menos peluda que a região do peito daquela outra pessoa, que vão te ensinar a chamar de pai.
O pai é a pessoa que em um certo dia, sóbrio ou não, casado ou não, apaixonado ou não, colocou seu esperma dentro da vagina da sua mãe.
O ato onde isso ocorre se chama "sexo".
Hoje em dia existem coberturas de borracha que se coloca em cima do pinto do homem para que o esperma dele fique bloqueado e não cometa o erro chamado "filho", o que seria motivo de choro e brigas.
A borracha só é retirada quando existe a vontade de ambas as partes de cometer o erro ou quando tanto o futuro pai quanto a futura mãe estão tão excitados que decidem fazer o tal "sexo" mesmo sem a borracha, correndo o risco do erro em nome do prazer que o sexo causa.
Dizem, porém, que o prazer no ato sexual é um artíficio da natureza para fazer as pessoas se reproduzirem cada vez mais.
A Natureza é representada sempre por uma árvore ou em coisas escritas na cor verde pelos humanos, porém ninguém sabe ao certo o que ela é.
Dizemos "natureza" mas poderiamos falar "Deus", "Deuses" ou "mosquito gigante que comanda o universo".
De qualquer forma é algo que não entendemos e que aceitamos ser maior e mais poderoso que nós humanos.
A Natureza porém nunca deu um motivo que nos fizesse querer fazer mais e mais humanos em miniatura sem parar, não existe uma razão lógica para tal reprodução que não o prazer do sexo.
O único prazer que existe na chamada vida que realmente vale a pena e que é um bom motivo para querer que mais seres humanos existam para provar é mesmo o sexo.
Dizem que quando você é criança e toma o leite do peito não peludo da sua mãe você não tem consciência do que está fazendo e não tem desejo sexual, o que é uma pena já que alguns anos depois você estará sedento por um par de peitos, mas não o da sua mãe.
O que nos faz não querer os peitos da nossa mãe chama-se "cultura".
Cultura é a arte de não esquecer.
As bisavós de nossas bisavós achavam que tinhamos que comer macarrão ao invés de carne humana, então a humanidade sempre fez isso e passou essa informação de geração pra geração, assim todos nós achamos nojento comer carne humana e comemos macarrão no domingo.
A informação é passada, repassada e reafirmada pra gente na fase em que não sabemos o que está acontecendo e o que estamos fazendo no mundo.
Essa fase começa quando você sai da vagina da sua mãe e acaba quando outros homens pegam seu corpo frio e enterram debaixo da terra.
Durante essa fase, na dúvida, você faz o que todo mundo faz e parece ser normal, isso é cultura e é por isso que não podemos mamar nos seios de nossas mães e nem nos de nossas irmãs (um irmão é um outro ser humano que saiu da mesma vagina que você. Ou melhor, ele é um ser humano que saiu da mesma vagina que você e cujo esperma que fertilizou a mulher saiu do mesmo pinto que seu esperma saiu, se o pinto é outro a pessoa é seu meio-irmão e você não pode fazer meio-sexo com ela e nem mamar em um peito só).
Não podendo mamar nos seios mais acessíveis buscamos outras maneiras de satisfazer o prazer natural do sexo, vamos buscar outras fêmeas da espécie humana (ou de outra espécie se você mora no interior).
Buscamos elas em qualquer lugar:
-No ônibus (uma caixa de ferro gigante que transporta seres humanos de um ponto do planeta a outro em troca de papel-moeda)
-Na escola (o lugar aonde você recebe oficialmente a cultura e toma bronca se não aprende direito e não transmite esse conhecimento em folhas de papel chamadas "provas" e que são documentos e você não pode rabiscar)
-Na faculdade (um lugar como a escola mas que você vai por conta própria)
-No parque (pequena região verde dentro de toneladas de concreto e fumaça chamadas de "cidades")
-No metrô (ônibus que andam sobre trilhos por baixo da terra. Vão por baixo da terra porque é mais rápido já que por cima tem muito concreto, seres humanos, escolas e faculdades)
-No escritório (lugar aonde fazemos algo pra alguém em troca do papel-moeda que nos dará permissão para andar no ônibus)
Em todos esses lugares existem fêmeas, mas você não pode fazer sexo com qualquer uma delas porque elas podem não querer e estupro é briga e não sexo.
Mas mesmo se quiserem vocês tem que passar por uma série de etapas decididas pela cultura, ou você faz sexo com uma prostituta, que é um ser humano que faz sexo em troca de papel-moeda.
A primeira etapa é conseguir um primeiro contato com a fêmea da outra espécie, vocês precisam "se conhecer".
Conhecer é o que nós humanos chamamos de saber algumas coisas sobre o outro ser humano, como seu nome de batismo e alguns gostos pessoais.
É importante para conseguir esse contato ter coisas em comum com a fêmea, por isso a necessidade de saber os gostos pessoais dela, mas para isso você precisa ter gostos próprios e é aí que entra a Arte.
Um assunto essencial com uma fêmea para descobrir se vocês tem coisas em comum é a Arte.
Se vocês gostam dos mesmos livros, filmes e músicas ela provavelmente vai fazer sexo com você ou pelo menos irá parar pra pensar nisso. Mas opa, o que é Arte?
Arte é algo que nós seres humanos criamos porque estamos muito decepcionados por não conseguir fazer o sexo e precisamos contar isso pra todo mundo pra nos sentir mais aliviados.
E precisamos contar isso com estilo pra ver se alguém quer fazer sexo com a gente porque temos estilo.
Contamos isso colocando tintas em telas, letras em folhas, fotos em sequência para serem rodadas em alta velocidade ou colocando notas musicais em sequências melódicas.
Quando fazemos isso nos sentimos realizados, superiores e sentimos que atingimos algo maior que só o simples desejo carnal, afinal criamos algo do nada, criamos arte.
Mas é óbvio que ninguém faria isso se pudesse estar fazendo sexo.
Afinal de contas só descobrimos a arte para achar pessoas que gostam da mesma arte que nós para podermos fazer sexo com ela.
Bom, depois de ver que vocês dois gostam da mesma coisa o próximo passo é convidar a fêmea para alguma atividade como jantar ou ir ao cinema.
Convidando ela para uma dessas coisas ela entenderá na hora que você quer fazer sexo com ela, mas não se sentirá ofendida, se você convidá-la para fazer sexo ela se sentirá mal-tratada e não aceitará.
Um jantar é uma cerimônia onde uma ou mais pessoas fazem sua refeição do período noturno. No caso de um jantar entre um macho e uma fêmea da espécie humana geralmente são servidos um vinho, que é um suco de uva com gosto estranho que é muito admirado e estudado por quem não faz sexo, junto a uma carne de algum animal morto.
Nesse jantar a preocupação do macho é servir à fêmea o melhor suco de uva e o melhor animal morto possível no melhor lugar-que-vende-comida possível para ela se impressionar.
Ela, pra impressionar o macho que já está impressionado, se preocupa em:
1. cobrir seu corpo com um tecido feito para não cobrir todo o seu corpo
2. jogar um líquido em seu corpo para que ele fique com um cheiro mais agradável e que pareça que ela nasceu com tal cheiro, que na verdade foi feito num laboratório por um grupo de pessoas interessadas em vender cheiro em troca de papel-moeda
3. cortar pêlos do seu corpo para não causar nojo que a cultura fez com que o macho tivesse sobre os pêlos femininos
4. não cortar os pêlos da parte superior da cabeça, já que fêmea careca afasta machos
Quando todos realizam suas tarefas com perfeição o macho e a fêmea finalmente vão fazer sexo, ou como dizemos, "vão para a cama", já que o sexo geralmente, mas não necessariamente, é feito sobre uma cama, móvel da casa que também usamos para dormir, assistir televisão (onde outras pessoas fazem sexo) ou para tomar café-da-manhã em datas consideradas especiais.
O sexo é feito de forma natural.
Na cama imperam mais as leis da natureza (ou da mosca que domina o universo) do que da Cultura e lá fazemos coisas que achávamos que não sabiamos mas quando fazemos nos sentimos o máximo.
Quando o sexo acaba é hora de olhar para o teto ou para o espelho que existe no teto e se perguntar: qual é o sentido dessa vida?...
(*) publicado (os errinhos de concordância estão no original) em http://vaichover.blogspot.com/2007/09/olha-como-funciona.html, com o título "Vai chover!", posted by Denis.