“Conhece-te a ti mesmo”
Normalmente atribuída ao filósofo grego Sócrates (479-399 a.C.), a frase “conhece-te a ti mesmo” é, na verdade, a inscrição que se via na entrada do Oráculo de Delfos. Neste local, dedicado a Apolo (na mitologia grega, o deus da luz e do sol, da verdade e da profecia), buscava-se o conhecimento do presente e do futuro por intermédio de sacerdotisas.
Na filosofia socrática o “conhece-te a ti mesmo” se tornou uma espécie de referência na busca não só do auto-conhecimento, mas do conhecimento do mundo, da verdade. Para o pensador grego, conhecer-se é o ponto de partida para uma vida equilibrada e, por consequência, mais autêntica e feliz.
Nessa visão, maturidade não é um desdobramento natural do tempo vivido, e sim resultado da vontade, do esforço de cada indivíduo em conquistá-la. Exatamente por isto é possível encontrar pessoas vazias em plena velhice e, ao contrário, mentes sábias no auge da juventude.
Como o autoconhecimento não é tarefa das mais fáceis, uma parcela significativa da humanidade prefere se debruçar à janela para espionar ou encontrar defeitos no outro. É muita pretensão de alguém usar as pessoas como alvos de seu olhar e sua língua quando pouco ou quase nada se sabe de si mesmo!
Sempre que me deparo com crimes chocantes, como o de Lindenberg Alves (que recentemente seqüestrou e matou a ex-namorada, Eloá Pimentel), o de Suzane von Richthofen (que ajudou a matar os próprios pais) ou o do jornalista Pimenta Neves (que também assassinou a ex-namorada), penso como eram estas pessoas na infância. O que faziam, de que brincavam, o que gostavam, o que não gostavam, como se relacionavam com os pais e com os amigos, quais eram suas angústias, seus sonhos... Dados que talvez pudessem dar alguma pista sobre as escolhas que fizeram mais tarde.
Será que realmente eles se conheciam? Será que eles e tantos outros que tomaram os mesmos rumos tiveram a oportunidade de encontrar respostas para seus questionamentos? Lindemberg, Suzane e Pimenta Neves não cometeram crimes por questões ligadas a privações sociais, como a fome, a falta de moradia ou o desemprego. Muito menos por desconhecimento de valores éticos, já que os três tinham discernimento sobre o assunto.
Por mais que uma análise nesse sentido requeira algumas variáveis, é possível afirmar que faltou lucidez mental aos criminosos mencionados aqui. Faltou a razão, que talvez os deixasse menos vulneráveis moral e psicologicamente.
Não se conquista tal lucidez mental senão através do autoconhecimento. Se os pais desejam ver seus filhos crescerem com mente sadia, o melhor remédio é incentivá-los a se conhecerem melhor a cada dia. Isto vale tanto para o campo racional quanto para o emocional. As repercussões práticas de cada um deles vão depender de quão harmonizados eles estiverem.
Indo agora além da Filosofia e mesmo do campo religioso, acredito que o autoconhecimento é obtido através de caminhos racionais e emocionais, mas, muito mais ainda, através da espiritualidade. Excesso de razão pode desembocar em orgulho e prepotência; excesso de emoção pode provocar desequilíbrio e desencontros. A harmonia espiritual costuma ser o fiel da balança entre este dois extremos que habitam em cada um de nós.