Quem ama não mata
A trágica morte da adolescente Eloá Cristina Pimentel, que comoveu o Brasil na semana passada, traz uma história que certamente seria referência para a minissérie “Quem Ama Não Mata”. O programa, produzido pela Rede Globo em 1982, teve sua origem na onda de crimes passionais que ocorriam no país na década de 1970.
O episódio mais comentado da minissérie foi beseado num dos casos mais famosos do país: o assassinato da socialaite Ângela Diniz, de 32 anos, pelo próprio namorado – Raul Fernandes do Amaral Street. Em 30 de dezembro de 1976, Doca Street (como o assassino era conhecido na alta sociedade carioca) matou com quatro tiros a chamada "Pantera de Minas" (apelido que Ângela Diniz ganhou por causa de sua beleza). A vítima deixou três filhos de um casamento anterior. Sua morte virou símbolo da luta pelo fim da violência contra as mulheres e fez surgir uma espécie de slogan deste movimento: quem ama não mata!
No “Caso Eloá”, a comoção popular advém não apenas da grande repercussão que o seqüestro de Santo André teve na mídia nacional. Ela traz à tona uma história com personagens perfeitamente identificáveis por quaisquer pessoas em quaisquer nações do mundo: uma adolescente que termina um namoro com um rapaz mais velho, provocando nele uma crise aguda de ciúme e orgulho ferido.
Na canção cujo título é exatamente “O Ciúme”, o cantor e compositor Caetano Veloso escreveu: “(...) o ciúme lançou sua flecha preta e se viu ferido justo na garganta. Sobre toda estrada, sobre toda sala, paira, monstruosa, a sombra do ciúme (...)”. De fato, homens e mulheres ciumentos existem aos montes em toda parte. Eles podem ser vistos em casamentos, namoros e mesmo nas relações familiares, em que pais possessivos têm ciúme dos próprios filhos. Em qualquer relação de ciúme há, pelo menos, dois ingredientes em comum: possessão e insegurança.
Certamente existem graduações de ciúmes, assim como em todas as demais paixões humanas. Há, por exemplo, o chamado “ciúme patológico”. Mesmo não sendo psicólogo ou psiquiatra, é possível arriscar o palpite de que Lindemberg Alves se encaixe em tal definição. Atirar no computador de Eloá por saber que a ex-namorada o usava para manter ativo o seu site de relacionamentos, é um forte indício disto.
Livros de psiquiatria trazem muitos casos clássicos de ciúme patológico. Um deles é o da paciente que marcava o pênis do marido, assinando-o no início do dia com uma caneta, e verificava a marca deste sinal no final do dia. O outro, tão ou mais doentio, revela o hábito de um homem que chegava a examinar as fezes da namorada, procurando possíveis restos de bilhetes engolidos.
Especialistas no assunto ressaltam que uma pessoa ciumenta costuma verificar a todo tempo onde se encontra o “alvo” do seu ciúme; com quem ele disse que estaria. Como nunca estará segura, abre correspondências, descobre senhas de e-mails e ouve telefonemas; examina agendas de telefone celular, bolsos, bolsas, carteiras, recibos, roupas íntimas; segue o(a) companheiro(a) e até contrata detetives particulares. Em casos extremos, como o de Eloá, o ciumento patológico chega a sequestrar a quem diz amar e, se for preciso, tira a sua vida para que ela não possa ser de mais ninguém.
Ciúme nunca foi e nunca será prova de amor. Amar, sim, é a única forma de fazer um amor florescer. Enquanto não for encarado como sinônimo de insegurança e possessividade, o ciúme será sempre um veneno corrosivo e só trará tristeza e dor.