O que nunca sai de moda
Qualquer adulto que se lembre bem da infância ou da adolescência consegue entender um pouco as malcriações e rebeldias das novas gerações. É normal que as pessoas tenham algumas décadas para se lapidar antes que atinjam uma maturidade que se possa considerar satisfatória, principalmente no que diz respeito ao convívio em sociedade. O problema é que os meninos e meninas deste terceiro milênio estão se sentindo cada vez mais senhores da situação.
Quando eu ou meus irmãos tentávamos colocar “as asinhas de fora” minha mãe sempre dizia: “você está muito absoluto para o meu gosto”. Confesso que na infância aquele “absoluto” não tinha muito significado, embora eu entendesse o contexto da reprimenda.
A criação que a minha geração teve pode até ser considerada severa em diversos aspectos, a ponto de não servir de referência para a noção de autonomia que prevalece atualmente em casa e na escola. No entanto, ela trazia alguns preceitos que acho que atravessarão os séculos de tão importantes e universais.
Entres os principais, vale ressaltar o respeito aos mais velhos, a honestidade acima de tudo e a retidão de caráter. Não que tais valores estejam agora ausentes na vida das crianças e adolescentes, mas estão jogados para escanteio, deixaram de ser a linha de frente em seus pensamentos, em suas relações com o outro, em sua educação básica. Mais do que nunca, os adultos de amanhã têm se comportado como se fossem os donos do pedaço; é como se tudo que não seja do seu universo ou rol de interesse não merecesse qualquer atenção.
Há teóricos da educação que defendem que é preciso haver uma mudança radical na postura dos professores para que estes consigam atingir esse novo tipo de estudante. Têm até sentido tais correntes pedagógicas, mas apenas no que diz respeito ao domínio de novas linguagens, novas tecnologias que facilitem a comunicação.
Certos valores do passado, como os citados anteriormente, nunca sairão de moda – até porque não são frutos de modismos. Quem, em sã consciência, dirá que é “coisa do passado” uma criança educada, gentil, atenciosa e que respeita o outro, ainda que seja um desconhecido? A infância é decisiva para quaisquer escolhas que necessariamente serão feitas depois. Os pais que observam com cuidado seus filhos já nos primeiros anos de vida podem encontrar respostas para as muitas dúvidas que costumam surgir mais tarde.
O que esperar lá na frente de garotos e garotas que são levados a ter “dupla personalidade” só porque seus pais não conseguem vê-los como realmente são? Muitos depois procuram desesperadamente explicações para os possíveis desvios de caráter, fracassos profissionais ou dificuldades de socialização de seus filhos. Neste estágio se torna uma tarefa vazia localizar com exatidão os culpados e o momento do erro. Não adianta transferir a responsabilidade para a escola, para os professores ou para a turma de amigos.
Nem sempre os erros cometidos podem ser identificados nas linhas mais visíveis dessa complexa leitura. Às vezes as respostas estão nas entrelinhas. São os primeiros anos de escola os ideais para se traçarem as lições de uma vida inteira. Neste estágio é possível a criança compartilhar de tudo; a jogar dentro das regras; a colocar as coisas de volta onde pegou; a arrumar a bagunça que fez; a não pegar o que é dos outros; a pedir desculpas quando machucar alguém; a lavar as mãos antes de comer; a dar descarga; e a respeitar o outro.