Vê cara, mas não vê coração

QUEM VÊ CARA, NÃO VÊ CORAÇÃO.

MATEMÁTICA - Professor Ronaldo (06/02/02) – Livro: Talibã

Quando entrei na sala, após o sinal, ele já estava lá - fantasiado de motoqueiro em dia de chuva. Eu não o conhecia, assim como não conhecia também a maioria dos alunos com os quais dividiria a sala de aula. Assim, não o identifiquei como professor. De repente, seu vozeirão ecoa pela sala, surpreende a todos e domina o ambiente. Percebe-se logo que o professor é um “barato”.

Natural da terra de Monteiro Lobato (Taubaté), parece um personagem típico das crônicas do escritor. Tem, como todos nós, uma história de vida quase singular, mas é um guerreiro que as dificuldades da vida criou e usa muito bem sua criatividade a serviço do crescimento pessoal e da comunidade na qual participa.

É sério na expressão e extrovertido na comunicação. É um homem do campo e parece gostar das coisas simples. É prestativo e interessado no que faz, mas é também prático e objetivo.

Na primeira aula com ele aprendi algo que ninguém havia me ensinado. Por isso que é interessante ver, sempre que possível, os ângulos diferentes da solução de um problema. As teorias surgem pela prática e é importante conhecer as variáveis dos fundamentos de uma determinada teoria.

Pensei que não fosse acrescentar nada ao meu conhecimento sobre a matéria, uma vez que já fiz um bom curso no Pará em 1985 e ciência exata não propicia mudanças. A intenção era recordar. Entretanto, fui surpreendido já na primeira aula. Prova de que a maior lição desta vida é a humildade. Sem ela dificultamos a empatia e criamos um bloqueio natural ao aperfeiçoamento.

O que ele demonstrou na sala de aula foi algo muito simples que a maioria talvez até já tenha visto. Mas eu não, e para mim fez a diferença entre a crença e a fé. Eu já conhecia a teoria das fórmulas e sabia manipular os números para obter o resultado final corretamente, aplicando-as. Sabia que negativo com negativo é positivo; que positivo com positivo é positivo; que negativo com positivo é negativo; etc. Mas não sabia o porquê disso, de forma convincentemente demonstrável e, se alguém me cobrasse isso, ficaria a desejar e frustrado, por não ter uma resposta à altura. Sabia apenas por puro convencionalismo e isso até me bastava. Mas esta aula fez a diferença e o professor que não “dá aulas” porque “cobra por elas” mostrou a que veio.

Gosto de conhecer alguém assim. Alguém que sabe que a vida não é apenas um buraco no espaço onde o homem se esconde - sem sequer saber de que... Dizem que é um “cara doidão” (no bom sentido), mas considerando que também não sou muito normal (e quem é?), sei que podemos ser bons amigos! Aliás, professor de matemática que não for meio doido, com certeza não foi muito fundo na matéria...

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Um dia de vida: é um dia a mais, ou um dia a menos?...

(professora Adriana - Português)

Lourenço Oliveira
Enviado por Lourenço Oliveira em 13/03/2006
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