Ainda existem altruístas?
Os seres humanos altruístas são tão raros que a própria palavra “altruísta”, hoje em dia, deve ser latim para a maioria. Antes mesmo de trazer uma definição mais ampla para altruísmo, vale adiantar que ele está no campo oposto ao do egoísmo e do egocentrismo.
Embora seja uma opinião sem qualquer respaldo científico, para mim os altruístas autênticos podem ser contados nos dedos das mãos, pelo menos desde o nascimento do mais importante deles em todos os tempos: Jesus Cristo. Com este exemplo dá até para suspeitar que tal característica não seja mesmo inerente aos humanos.
Criada em 1830 pelo filósofo francês Augusto Comte, a palavra altruísmo foi usada para designar o conjunto das disposições individuais e coletivas que inclinam os seres humanos a se dedicarem aos outros. Considerado o “pai do Positivismo” (corrente filosófica que propõe a prática de uma ciência sem teologia ou metafísica, baseada apenas no mundo físico/material), Comte criou este verbete exatamente para designar a doutrina moral positivista.
No Catecismo Positivista – escrito e 1852 – ele enunciou a máxima fundamental do altruísmo: “viver para os outros”. Para o filósofo francês, esta prática poderia se desenvolvida gradualmente por meio da educação, reforçando sempre os instintos simpáticos sobre os instintos egoístas.
Não por acaso a palavra altruísmo, muitas vezes, é tida como sinônimo de solidariedade. Conhecendo um pouco mais da sua essência, no entanto, é possível perceber que um altruísta é necessariamente solidário, mas já o contrário não dá para ser inferido.
Enquanto o egoísta busca em primeiro lugar os seus próprios interesses e o egocêntrico só interaja com as pessoas se absolutamente tudo girar em torno dele mesmo, o altruísta serve com amor e se doa ao próximo, sem estabelecer condições. Para tentar estabelecer a fronteira que o separa do solidário, não é tão difícil imaginar que muitas pessoas sejam solidárias visando obter alguma vantagem lá na frente – direta ou indireta.
No altruísmo se age desinteressadamente. Faz-se o bem ao outro simplesmente porque fazer o bem é como uma mola que impulsiona a sociedade para rumos melhores. Difícil aí é ter a certeza de que a ajuda ao outro foi, de fato, sem qualquer interesse de cunho pessoal. Infelizmente, as práticas políticas e sociais escolhidas pela humanidade só reforçam tal desconfiança...
Esse levantamento que faço aqui parece algo como “chover no molhado”. Mas eu acredito que somente no dia em que registramos o óbvio seremos capazes de transformar nossas próprias vidas e até mesmo a realidade que nos cerca. Em outras palavras, entender o significado de um sentimento, de um conceito é abrir o leque de opções para se transformar, para crescer, para conquistar.