CONSIDERAÇÕES SOBRE O TEMPO
“Cinco segundos caminhando na praia é pouco
Cinco segundo caminhando sobre brasas é muito
Cinco minutos para quem precisa dormir é pouco
Cinco minutos para quem precisa acordar é muito
Um fim de semana de sol é pouco
Um fim de semana de chuva é muito
Um mês de férias é pouco
Um mês sem descanso é muito
Uma vida pra quem doa é muito
Mas uma vida pra quem espera é tudo
Tempo é vida.”
(Ministério da Saúde e Governo Federal)
Esse trecho extraído da propaganda sobre doação de órgãos faz com que a gente reflita melhor sobre a vida. De repente descobrimos que só temos apenas 24 horas para viver. Não adianta pensar nos 365 dias do ano, mas no que pode significar um dia para viver.
O que significa cada segundo? Cada minuto? Um segundo, um minuto significam muito. Por causa de um segundo nos livramos de um terrível acidente. Às vezes é bom perder a hora de ir para o serviço! Às vezes é bom perder o avião, perder o ônibus ou desistir de sair naquele dia. Deixar de ir a uma festa, a uma balada, cochilar na hora do compromisso, perder um encontro ou coisa parecida. Todas essas perdas podem representar um ganho sem tamanho!
Ninguém sabe a hora que algo irá acontecer. De repente se tem uma notícia:
- “Caiu aquele avião”.
- “Naufragou aquele navio”.
- “A empresa tal pegou fogo e muitos operários morreram carbonizados”.
- “Aquele ônibus tal bateu e morreram todos os passageiros”.
- “O banco tal foi assaltado”.
Quantas vezes alguém diz:
-“Ainda bem que não embarquei naquele avião”.
- “Ainda bem que perdi aquele ônibus”.
- “Ainda bem que não embarquei naquele navio”.
- “Ainda bem que perdi a hora de ir para o trabalho hoje”.
- “Ainda bem que perdi aquele encontro” etc.
Todas as perdas, não são perdas, são ganhos. Se aprendêssemos a olhar positivamente para todas as nossas “perdas” e o que poderia vir por trás delas daríamos graças a Deus, por aquilo ter acontecido daquele jeito tão inesperado. Por trás de uma derrota há sempre uma vitória e, por trás de uma surpresa há sempre uma mensagem.
Um dia eu perdi o ônibus em plena rodoviária. Eu estava distraído conversando com a diretora da escola onde eu era coordenador. Vimos o ônibus saindo e não pudemos fazer nada. Ficamos olhando um pra a cara do outro. Ela olhou para mim, e juntos demos gargalhadas daquele episódio. Ela perguntou:
- E agora, que fazer? Eu respondi:
- Vamos pegar o trem e voltar.
Ao regressarmos, peguei o carro e zarpamos. Chegamos atrasados para o alojamento, mas não perdemos nada. Quando vi que havia perdido o ônibus, procurei animar a diretora dizendo: que nada, a perda do ônibus pode representar algo positivo. Quem sabe algo desagradável não poderia vir a acontecer durante o trajeto? Graças a Deus que nada ocorreu com o ônibus, mas eu preferi ver daquele jeito, àquela situação.
Éramos para estar em Santa Cruz do Rio Pardo no horário marcado para o alojamento, no dia seguinte, iríamos participar do congresso de Diretores e Coordenadores Pedagógicos. Diversos assuntos relacionados à gestão da escola pública seriam abordados e não podíamos perder. Ufa! Ainda bem que deu certo.
Bom, chegamos lá sem prejuízo. Foi muito legal!
Nunca se sabe o que pode acontecer, por isso, um atraso, uma perda pode significar muita coisa. Descobri com o passar do tempo que não vale a pena viver estressado, apavorado, deprimido e pressionado.
Descobri que é preciso deixar a vida nos levar.
Entendi que nem sempre as coisas são como a gente deseja ou imagina que deve ser e, que a vida não é um mar de rosas, mas, em meio a todas as adversidades há sempre uma saída que espera pela gente. Isso é pra que a gente aprenda que nunca nada está perdido. Ao final do túnel há um sempre farol a iluminar, é só seguir a luz e ela nos levará a saída, só que ao passar por ela não convém que olhemos para trás, então descobriremos, que por um longo tempo vivíamos contemplando sombras, sombras da realidade, uma realidade, que jamais imaginamos que existisse. Mas, ao ultrapassarmos a fronteira que nos separa da realidade, descobrimos que um mundo muito melhor que aquele nos espera, ele existe e é real. Descobrimos ao atravessar o túnel, que estivemos prisioneiros a vida toda, mas nunca nos demos conta disso. Estávamos algemados e amordaçados!
Enquanto eu fazia essa reflexão, me deparei com a propaganda “Considerações sobre o tempo”. Pensei: Puxa! Foi muito inteligente o cara que elaborou essas lindas frases. Aquilo de fato mexeu comigo. Quanto tempo a gente perde? “Cinco segundos caminhando na praia é pouco”. Quem nunca sentiu isso? O relógio corre e você vê que o seu tempo é curto, mas o desejo é que àquelas horas nunca passassem.
Cinco segundos de dor são terrivelmente longos. Parece que nunca vão passar. Pode ser qualquer dor, inclusive a da saudade! “Cinco segundos caminhando sobre brasas é muito”. Imagine isso! Que sofrimento, não? Brasas são metáforas de sofrimento. Mesmo os psicológicos não são meras imaginações, são reais. As lesões da alma doem com a mesma ou com maior intensidade que as que são provocadas por acidentes na carne.
Podemos imaginar o que isso significa na vida de um detento que não cometera crime algum, na vida de uma pessoa solitária, na vida de quem está decepcionado, na vida de um desiludido ou de quem caminha sem esperança alguma, e o caminho de alguém sem esperança é muito longo e parece um deserto que nunca tem fim. O sofrimento parece sempre uma eternidade! As horas nunca passam, as noites são longas e a gente vê o dia clarear. A gente fica olhando pro horizonte sem saída, fica olhando pras estrelas e imaginando quando toda aquela dor que a gente sente irá ter fim. Fica procurando respostas, quando não há resposta alguma para a nossa indagação. Então, “Cinco minutos para quem precisa dormir é pouco”, pois, depois de passar noites em claro, a gente arrisca a dar uns cochilos, mas, ao começar a pegar no sono de repente a gente acorda assustado com o despertador plimmmm: é hora de ir trabalhar. Aqueles “Cinco minutos para quem precisa acordar é muito”. Do mesmo modo que “Um fim de semana de sol é pouco”, por isso é preciso aproveitá-lo ao máximo. “Um fim de semana de chuva é muito” quando se está na solidão, quando não se tem ninguém ao lado pra conversar ou, com quem se desabafar. “Um mês de férias é pouco” diante de 12 meses trabalhados, por isso, não se pode desperdiçar um segundo sequer. “Um mês sem descanso é muito”, por isso é preciso aproveitar aqueles segundinhos e descansar o corpo, a alma e a mente. É preciso fazer tudo com amor, curtir do lado de quem a gente gosta, pois uma vez que se descobre que “Uma vida pra quem doa é muito” a gente descobre que passou pela vida e não doamos um segundo sequer, não nos entregamos, não fizemos o melhor de nós para tornar a vida de outras pessoas melhores e mais agradável.
Inconscientemente deixamos a vida esvair de nós para depois chorar no velório de um amigo, quando nem paramos para dar um abraço quando precisou de nós. Mas quando a gente se encontra em situações difíceis e sentimos a dor perfurando a nossa carne sem ninguém para doar um minutinho de sua companhia é que descobrimos que “uma vida pra quem espera é tudo” e que...
“Tempo é vida!”
Eu descobri nessas frases, que a vida é um direito fundamental e que podemos não tê-la se outros também, não a tiverem. Descobri nesta simples propaganda que a vida é muito mais que dinheiro, mas que o dinheiro a tem sufocado. Descobri que a mesquinha visão capitalista de incentivo ao lucro tem levado pessoas a eliminar a outra por míseros 500 reais ou menos.
Refletindo sobre o significado de uma vida, descobri que a expressão “time is money”, que alguns atribuem a Benjamin Franklin, não significa nada diante das experiências lindas que acumulamos durante todos os dias de nossa história, e que não há dinheiro acumulado que pague um minuto de felicidade. Investir na vida é o maior investimento. Tempo é vida, não é dinheiro! Como diz Alfredo Bosi, “o existir do homem é um passar. A vida humana é uma passagem. Os romanos diziam do tempo que ele é voraz: tempus edax rerum”.
“O tempo é um roedor das coisas” diz Alfredo Bosi e a mitologia grega ilustra isso ao apresentar o deus Crônos devorando seus filhos ao nascerem. Cronos é o deus do tempo infinito (de Kronus = tempo), filho de Urano e Gaia, pai de Zeus, destronou seu pai e reinou sobre o mundo junto com Réia, sua irmã-esposa. Com a ajuda de uma foice de sílex, Cronos seccionou os órgãos genitais do pai usando a mão esquerda - a maneira de ver a vida pela ótica materna, e os atirou ao mar, diz a lenda. Cronos é representado pela imagem de um velho que carrega uma foice. Como uma metáfora do tempo, ele devora seus filhos como se quisesse nos dizer que nada escapa ao tempo e que tudo esta preso no nosso universo a uma teia que chamamos de espaço-tempo.
Se você está vivendo sob pressão, apavorado. Pense. Será que vale a pena? O máximo que irá levar daqui é a roupa fúnebre que te vestirem antes do enterro.
Se você não conseguir compreender as lições que o TEMPO quer nos ensinar, então, irá morrer como um eterno analfabeto sentimental. Pense nisso.
Tempo não é dinheiro...
Tempo não é sinônimo de acúmulo de capital...
Os capitalistas, além de tentar nos iludir com essas heresias.
Eles violam dia-dia o direito sagrado, ou seja, o direito à vida quando priorizam o sucesso individual.
Time is life!