A defasada fórmula do BBB
A Rede Globo, pelo nono ano consecutivo, prepara-se para empurrar goela abaixo dos brasileiros um programa que o restante do mundo não suporta mais assistir. Infelizmente, daqui a alguns meses começará o Big Brother Brasil 9.
É verdade que o controle remoto da TV é a melhor arma contra programas chatos e sem conteúdo, como esse. No entanto, a falta de criatividade de grande parte da mídia nacional termina repercutindo a tragicomédia vivida por uma turma de candidatos à fama fácil.
O problema é que a Globo insiste nessa fórmula repetitiva, apostando no gosto popular pela futilidade e pelo sexo insinuado. Ou melhor, insinuado na edição feita para a TV aberta, pois nos pacotes fechados e vendidos pela emissora na TV por assinatura a intimidade dos brothers e sisters fica de Playboy para baixo. Aliás, o BBB, como também é conhecido, tem servido mesmo para preparar mulheres para algumas edições da Playboy nos meses subseqüentes ao programa e para explorar a imagem de figuras sem qualquer talento em quadros sem graça do Fantástico.
Parece que essa fórmula “superexposição-sexo-dinheiro” é inerente ao formato do Big Brother, independentemente de sua nacionalidade. Recentemente, a ex-BB da TV italiana – Raffaele Fico, anunciou que vai leiloar a sua suposta virgindade por um milhão de euros (cerca de 2,6 milhões de reais). Quem dá mais?
Voltando ao BB tupiniquim, somente por um alto salário para alguém tão sério e competente como Pedro Bial se prontificar a comandar essa xaropada. Por trás desse teatro de quinta categoria está a verdadeira engrenagem interessada em mantê-lo funcionando. Fazem parte dela a própria emissora, que fatura altas cifras e ainda substitui as “férias” de vários programas de peso por algo relativamente de baixo custo; os patrocinadores, que veiculam seus produtos para consumidores de quase todas as faixas-etárias e classes sociais; e as companhias telefônicas, que faturam horrores com a inocência (para não dizer coisa pior) dos que pagam ligações para votar em quem sai e em quem fica na “casa de vidro”.
O Big Brother Brasil é a cara de um País que não se leva a sério. Se um telespectador somar todas as horas que se dedicou para assistir aos capítulos diários desta novela enfadonha perceberá que perdeu um tempo precioso que poderia ter sido bem melhor aproveitado.
Essa é uma dolorosa constatação de que no Brasil são considerados vencedores os que correm atrás das portas abertas para a fama fugidia; os que topam tudo por dinheiro; e os que apostam no caminho mais curto para a notoriedade, de preferência a que não precisa de anos de estudo sério e trabalho árduo.
Para os que têm antena parabólica ou TV por assinatura há inúmeras opções para driblar mais uma edição do defasado reality show. Felizmente, existem bons canais, como o Futura, com programas realmente dignos de um público inteligente. Um deles, que vai ao ar de segunda a sexta-feira, às 23 horas, merece ser conhecido e acompanhado. Trata-se do “Passagem Para...”, produzido e apresentado pelo jornalista Luís Nachbin. Com uma câmera na mão e muita sensibilidade, ele já percorreu dezenas de países – muitos deles desconhecidos dos brasileiros – para mostrar aspectos culturais pouco abordados em programas convencionais que envolvem viagens ao exterior.
Já que a vida alheia interessa tanto à maioria das pessoas, pelo menos que este interesse não seja pelo que há de mais raso e fútil, como o conteúdo do BBB. Novamente usando o “Passagem Para...” como referência, é possível encontrar em culturas tão diferentes da nossa conhecimentos e aprendizagens realmente úteis.