Bússola chamada ética
No caminhar da humanidade, ao longo dos milênios, nem mesmo a força da natureza foi um obstáculo maior do que o convívio em sociedade. As constantes disputas pelo poder – à parte da própria luta pela sobrevivência – despertaram no ser humano um ímpeto egoísta, que normalmente o levam quase sempre a pensar primeiro em si.
Essa visão egocêntrica de mundo terminou virando um norte em praticamente todas as relações humanas, desde as familiares e afetivas até as de cunho social e profissional. No entanto, como “nenhum homem é uma ilha”, como já ressaltava no século 16 o filósofo inglês Thomas More, algo teve que ser feito para frear esta atitude individualista.
Eis que surgem morais, leis e éticas para respaldar todos os aspectos da convivência em sociedade. Mais do que leis divinas, foram necessárias normas feitas por e para os seres humanos. Exatamente por isso leis, morais e éticas mudaram e continuam mudando de lugar para lugar, de época para época. Também é por isso que muitas morais e muitas leis beneficiam alguns em detrimento de outros. Esta é a constatação de que a humanidade ainda está longe da maturidade, de um ideal de harmonia em todos os níveis de convivência social.
Mesmo estando longe de tal perspectiva, vale ressaltar que ela é a melhor que ainda temos neste terceiro milênio. Perseguir o bem estar comum talvez seja a única saída para a sobrevivência da raça humana. Neste sentido, entender o que seja ética é descobrir a bússola capaz de guiar as pessoas em meio às tentações do individualismo, da corrupção, do enriquecimento ilícito, da ascensão desonesta. Não por acaso instituições de ensino superior do mundo todo têm optado, cada vez mais, por introduzir em seus cursos disciplinas e conteúdos programáticos que contemplem a ética. Na verdade, as mudanças neste sentido já atingem os estudantes desde os primeiros anos do Ensino Fundamental, chegando até o Ensino Médio.
Disciplinas como Filosofia e Sociologia, que diretamente têm a ética como referência, já são realidade para muitas crianças e adolescentes no mundo inteiro. Felizmente, por iniciativa do Governo Federal, as duas voltam a ser obrigatórias no currículo do Ensino Médio em todo o país. Pelo menos em tese, pensar e ter senso crítico ganham mais espaço com tal decisão.
Na França, por exemplo, muitas escolas adotam a Filosofia já na Educação Infantil. Crianças de 3 e 4 anos começam a filosofar na prática. Por exemplo, numa aula dessas a professora perguntou às crianças: “vocês acham que quando forem grandes vão poder fazer tudo o que querem?”. O resultado foram opiniões das mais variadas, desde alguns que disseram que iriam ver filmes até mais tarde até outros que concluíram que quando crescessem não mais precisariam pedir aos pais para dormirem na casa dos amigos. O debate acalorado deu à professora a chance de enfocar a temática ligada aos limites que a vida social impõe. É a ética sendo pincelada na formação dos futuros adolescentes e adultos.
Enfatizando o estudo de ética nos cursos superiores, é importante que os graduandos tenham em mente que jamais serão profissionais plenos e promissores se não encararem esse tema como uma aprendizagem tão importante quanto a formação “técnica” em suas respectivas áreas. Afinal, a ética, enquanto crítica e transformadora de morais, leis e da própria conduta individual, será (mais do que hoje já é) um dos pilares de qualquer organização – pública, privada ou do terceiro setor.