A Minas mais Minas

Muito provavelmente o sentimento de ser mineiro do morador de Pirapora seja o mesmo daquele que está em São Lourenço, no chamado Circuito das Águas. Apesar de já poder ser considerado um “baianeiro” (após quase 15 anos morando no estado), ainda não consigo deixar de ver Minas Gerais de uma forma um tanto caricaturada. Talvez por isso tenha elegido Tiradentes como a Minas mais Minas.

Já morei em Ouro Preto e a acho fantástica enquanto emblema histórico da alma mineira. No entanto, a velha Vila Rica perdeu, como a sua vizinha Mariana, um tanto daquilo que considero essencial em Minas: a poesia simples e cotidiana que fica nitidamente impressa em casas, ruas e gente. Foi exatamente isso que pude apreender em Tiradentes desde a primeira vez que fui lá.

O fato de Ouro Preto e Mariana serem cidades maiores e também universitárias, como Viçosa (onde moro), o dia-a-dia por lá é bem mais diferente e agitado do que em Tiradentes. Mas, na verdade, nem é esta a principal diferença. Um simples passeio por Tiradentes, seja de carro, a pé, de charrete ou na charmosa maria-fumaça, traz à tona esta sensação de estar mergulhando fundo no verdadeiro coração das Gerais.

Certa vez, sentado num dos bancos da praça principal da cidade, com o olhar perdido na belíssima Serra de São José, fiz uma outra viagem que me deixou ainda mais perto da Minas que desde a infância instiga a minha imaginação. Tive ali a convicção de que “a felicidade mora ao lado”, como disseram Beto Guedes e Ronaldo Bastos na música Sal da Terra. Uma felicidade envolta em silêncio, em simplicidade e num certo mistério que só as montanhas mineiras parecem guardar.

Descrever a Tiradentes física é relativamente fácil, mas faltam palavras para dar forma à “mineiritude” que tento ressaltar ter sentido por lá. Também não pretendo aqui fazer qualquer propaganda turística do lugar, até porque os órgãos oficiais responsáveis por isso já possuem estratégias infinitamente melhores. Quero apenas deixar impressões que possam servir de convite aos que desejam (re)encontrar os caminhos da identidade mineira.

De quebra, ainda é possível voltar ao passado para entender a importância da história dos Inconfidentes para Minas e para o Brasil, além das inúmeras mensagens que resistem ao tempo e podem ser resgatadas nos seus principais marcos preservados. Para os visitantes de primeira viagem eu recomendo dois passeios: um de charrete (seus condutores dominam bem as principais informações históricas sobre a cidade) e outro no trem que liga Tiradentes a São João Del Rei (aí as sensações podem ser as mais diversas e imprevisíveis, mas, com certeza, boas e inesquecíveis).

Roberto Darte
Enviado por Roberto Darte em 20/06/2008
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