O mais sagrado símbolo humano
A idéia de uma Mãe Divina é um dos símbolos mais antigos e universais, através dos quais o ser humano se tem relacionado com o sagrado. A sua forma varia segundo as culturas e tradições. Por vezes bem concreta, como Kali, Ishtar e Ísis; outras, a divina criadora de toda a existência, como Nut. Outras ainda, como Yoruba ou Oya - africana, tomando a forma de coisas naturais como o rio Niger, tornados, búfalo, fogo, vento; ou Iemanjá, deusa do mar, da cultura afro-brasileira; deusa da fertilidade como Ix Chel, principal deusa dos Maias; criadora do universo e da vontade, como Prakriti na Índia; outras mais abstrata como Yin, da filosofia Taoista; outras, a mulher em mutação, como nas culturas dos índios Pueblo. Outras, semideusa como Brunilda, representando a luz que ilumina o caminho; outras ainda como rainha, a Rainha do Sabat do judaismo. Ela é Gaia, nas suas mutações, na sua beleza, na sua fertilidade. Ela é Sophia, Sabedoria; ela é a criadora, poesia, medicina, vibração, música e musa da alegria ou deusa da Liberdade e da Verdade. Ela é mulher e homem. Ela é inspiração; ela é o sonho que nasce da escuridão; ela é a que integra, a que dá, a que salva e também a que denuncia, porque ela é também a candeia da Humanidade. Por isso a Mãe Divina é a ponte entre a violência e o amor, a Humanidade e o Sagrado. Ela está em cada ser humano e cada ser humano está Nela.
Um texto gnóstico misteriosamente intitulado O Trovão, A Mente Perfeita, oferece um poema através de uma poderosa e divina voz feminina:
“Porque sou a primeira e a última...
Sou a mais reverenciada e a mais desdenhada...
Sou o silêncio incompreensível...
Sou a expressão do meu Nome.”
Lugares de adoração à Virgem Maria, como Fátima e Lourdes estão sendo cada vez mais visitados, sendo muitos dos visitantes de outras religiões, como protestantes e muçulmanos. A necessidade de milagres alarga-se e expande-se além do catolicismo. Isto, porque o ser humano ainda não sabe que os milagres vêm do seu próprio poder interno e os procura fora de si. Contudo, o ponto mais importante destas romarias, e a facilidade com que tantos adoram Maria, é o resultado da manifestação da Mãe Deusa gravada há milhares de anos como principal arquétipo da Humanidade. A Deusa toma muitas formas, e algumas escondem os seus atributos. O importante é que prevaleça a imortalidade do seu poder, porque a Mãe Primal nunca abandonará a Humanidade, razão pela qual Brunilda sobreviveu aos deuses nórdicos, enquanto a luz solar continua irradiando do seu centro.
Muitos autores, de maneiras e ângulos muito diferentes, tentam hoje restaurar as energias da Mãe Terra e suas filhas, como Lynn V. Andrews com sua mentora, uma índia norte-americana. Contudo, não são só mulheres que clamam pela harmonia e equilíbrio da polaridade humana, mas também homens de todas as camadas sociais e de todos os países. O Knight Henry Rider Haggard no seu livro Ela, afirma através das palavras da Deusa, escondida em África há milhares de anos: “Não creias que me torne cruel, ou que me vingue de coisas tão baixas...”. Quando Henry Miller analisou Ela, chegou à conclusão de que simboliza um castigo da natureza, onde a evolução involui. Realmente, Miller estava quase certo. A Deusa, ao esconder-se e por vezes transformando-se num macaco parece involuir, e com Ela a natureza humana parece retroceder; mas ainda Haggard nos diz pela boca da Deusa: ”Apenas há uma esperança nesta noite de desespero. Essa esperança é Amor!”
O ser humano não poderia ter se desenvolvido sem Amor e é ainda o Amor que o irá libertar das cadeias do seu presente estado de evolução. Sendo assim, a idéia de uma Mãe Divina acaba por ser o arquétipo necessário para que não nos esqueçamos de amar. Dentro desse princípio, adquirimos a força e o discernimento necessários à transformação desta raça ainda tão primitiva, noutra superior, a qual não teríamos a possibilidade de alcançar se não fosse esse sagrado símbolo. É esse arquétipo que não nos permite esquecer a chave de todos os mistérios o qual carregamos nas cavernas mais profundas da alma à espera do dia em que a Humanidade desperte do seu torpor e a procure.
Rosa DeSouza
Do livro Testiculos habet et Bene Pendentes
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