Atalhos que fazem a diferença
Nada é mais complicado do que se perder a esperança nas instituições públicas, que existem, em tese, para melhorar a vida das pessoas. Vivemos atualmente no Brasil o que um amigo historiador costuma chamar de “a era do purgante”. Dia após dia a sociedade é convidada a tomar doses cavalares de um purgante chamado Ética, o único capaz de arrancar das suas entranhas uma sujeira histórica que demorará décadas para sair.
Em 2007 o ministro da Agricultura, Bosques e Pesca do Japão – Toshikatsu Matsuoka – se matou em meio às acusações de corrupção e malversação de fundos públicos que recaíam sobre ele. Sua atitude, que causa estranhamento e perplexidade a qualquer brasileiro, é coerente com os padrões éticos e morais que norteiam aquela nação.
Longe de mim achar que o suicídio seja uma saída para o que quer que seja. O que chama a atenção na escolha do político japonês é o sentimento de vergonha que ele deve ter sentido não somente diante de sua família – instituição sagrada no Japão, mas perante os amigos e o povo, em geral. Algo inconcebível, por exemplo, para grande parte da nossa classe política; para aqueles envolvidos em mega-escândalos de corrupção, que sequer coram o rosto de vergonha quando são desmascarados.
Difícil encontrar a raiz de um problema tão antigo. É altamente crítica a contaminação dos valores éticos que permeiam a política e a administração pública em nosso país. Por isso não dá para culpar alguém por perder a esperança em dias melhores nesta área; por preferir acreditar nos pensamentos e ações independentes, que funcionam como atalhos.
Felizmente, há atalhos que são muito mais eficazes do que as estradas principais, mesmo sendo estreitos e modestos. Já são várias as organizações não governamentais (ONGs) que têm feito o chamado trabalho de formiguinha em municípios pequenos ou nos bairros das grandes cidades; muitas são as pessoas que transformam suas crenças pessoais e profissionais em resultados surpreendentes. O voluntariado é hoje um ótimo exemplo de solidariedade e de crescimento individual e coletivo.
No filme “A Corrente do Bem” Eugene Simonet (vivido pelo ator Kevin Spacey) é um professor de Estudos Sociais que, no primeiro dia de aula, desafia seus alunos da 7a série a pensarem um jeito de mudar o mundo e colocar isso em prática. Enquanto a maioria da turma encara a proposta como um mero trabalho escolar, Trevor Mckinney (personagem do talentoso Haley Joel Osment, de “O Sexto Sentido” e “A.I. - Inteligência Artificial”) faz a diferença.
O garoto cria a Corrente do Bem, que possui três premissas simples: fazer por alguém algo que este não pode fazer por si mesmo; fazer isso para três pessoas; e cada pessoa ajudada fazer isso por outras três. Assim, a corrente cresceria em progressão geométrica: de três para nove, daí para 27 e assim por diante.
Pode até parecer ingênuo, mas se trata de algo tão eficaz que chega a ser surpreendente. O mundo “não precisa” mais de tecnologias; sequer conseguimos assimilar e compartilhar as disponíveis. Precisamos, sim, de amor, fraternidade, compaixão. Precisamos equacionar a desigualdade que coloca no topo da pirâmide sócio-econômica alguns poucos privilegiados; aqueles com poder político para decidir o destino dos milhões que estão abaixo do chão.