Interligados
Caminhamos a passos largos para o dia em que o destino de cada habitante do planeta estará diretamente atrelado um ao outro. Algo como o que pressupõe aquela teoria de que o bater de asas de uma borboleta num extremo do mundo pode iniciar uma reação em cadeia que culmine num furacão no lado oposto.
O que ninguém mais duvida é que o planeta se tornou pequeno o bastante para que todas as ações de seus habitantes estejam direta ou indiretamente interligadas. Comunicações, economias, decisões políticas e agressões ao meio ambiente: tudo se une como numa corrente de incontáveis elos, fazendo com que a humanidade se veja por um prisma realmente global.
Enquanto o atentado terrorista contra os Estados Unidos, em 11 de setembro de 2001, detonou um novo estágio da face mais horrenda dessa globalização, nas nações sub-desenvolvidas e em desenvolvimento a violência, a fome e a miséria deram ao mundo um retrato mais exato de um outro problema generalizado. A verdade é que cada nação, cada um de seus habitantes é uma peça de um dominó gigante, que em si pode até ser muito resistente, mas enfileirado se torna bem fácil de ser derrubado.
Todos os tetos são de vidro e nada mais escapa de ser alvo do que quer que seja, de quem quer que possua alguma vantagem bélica, política ou financeira. Pouco a pouco vão sendo retirados os tapetes que escondiam os lixos que não eram expostos nas ruas. Em seu lugar satélites, câmeras de vídeos e microfones escondidos monitoram até mesmo quem os concebeu com a intenção de espionar.
O clima de medo que tudo isso tem gerado é apenas um dos pontos de partida para que as pessoas construam por livre e espontânea vontade suas próprias celas de segurança máxima – que nem assim são tão seguras. Até a classe média brasileira está economizando o dinheiro que seria gasto nas férias e no lazer da família para investir em vigilância eletrônica, cerca elétrica e até em carros blindados. Que o digam os moradores do Rio e de São Paulo nessas condições financeiras.
Se queremos entender porque nossa sorte hoje depende tanto de todos, nem precisamos sair do país ou saber pela TV o que se passa. Basta andarmos pelas ruas de nossas próprias cidades. Basta que observemos um pouco que seja como vivem muitos dos cidadãos que dividem ruas e calçadas com cada um de nós; o que eles têm em suas casas, o que fazem para sobreviver, para dar a suas famílias alguma dignidade e uma perspectiva diferente de futuro, melhor do que seu passado, seu presente.
Não se trata de achar culpados. Nem mesmo apontar o dedo para os sucessivos governantes que um dia poderiam ter feito algo, e não fizeram. De qualquer forma nossa sorte depende de todos, e não adianta tentar achar desculpas para tirar o corpo fora. Afinal, se o sucesso de uns significar o fracasso de outros, então o fracasso terá sido geral.
Talvez até nossa cidade, nosso estado e nosso país não sejam os mais castigados socialmente, se comparados a inúmeros outros lugares onde a miséria reina absoluta, como em certos países africanos e da América Central. Mas estão longe de se posicionar entre os que alcançaram o topo de uma boa qualidade de vida de seus habitantes.
Ricos ou pobres, bem sucedidos ou fracassados, todos fazemos parte desse grande dominó enfileirado. Isso é irreversível! Não há como escapar das conseqüências das desigualdades sociais, do abismo que separa o caviar do pão velho. Quem nada tem, nada tem a perder; é capaz de tudo para ter. A partir daí os problemas mudam apenas de dimensão: sai do batedor de carteira que deseja qualquer valor para comprar drogas e vai até uma nação que domina outra por incalculáveis interesses econômicos.