O valor da conquista
Certa vez, quando ainda estava na casa dos vinte, ouvi um pai dizer que se dependesse dele seu filho teria tudo que ele não pôde ter. O homem foi mais além e declarou que faria tudo que estivesse ao seu alcance para que seu filho – então com aproximadamente 10 anos – “não precisasse dar duro, trabalhando”, como ele fez desde rapaz.
Na ocasião em que isso foi dito me limitei a escutar, uma vez que não me sentia à vontade para expressar a minha opinião sobre o assunto com o cidadão, que era pelo menos 20 anos mais velho do que eu e pouco aberto a críticas. Hoje, cerca de quinze anos depois, vejo o destino que o seu filho teve: foi pai aos 18 e aos 21 anos; não concluiu o Ensino Médio (nem esboçou qualquer interesse em concluí-lo) e teve que trabalhar de motorista na Prefeitura do município onde mora, uma vez que seu pai não conseguiu o padrão de vida que sonhou para bancá-lo.
Este não é um exemplo que se pode chamar de trágico, já que o rapaz (hoje com mais de 25 anos) é boa gente e não cometeu qualquer ato ilícito para reverter sua situação; apenas se conformou com o que o destino lhe reservou. Ele não fez como muitos que recebem tudo dos pais e, ainda assim, partem para a vida marginal em busca de mais.
Desse rol fazem parte Suzane Von Richthofen – que em outubro de 2002, quando tinha 19 anos, ajudou a matar os próprios pais, e Ana Paula Jorge Souzas, de 21 anos, presa em março de 2007 sob suspeita de integrar uma quadrilha de roubos que agia em Campinas. Ambas têm em comum o fato de serem de classe média alta, estudantes de Direito e de se envolverem com namorados bandidos. As duas também tinham uma vida material farta, proporcionada pelos pais.
Logicamente Suzane e Ana Paula são os extremos de uma realidade social, com desfecho contado em páginas policiais, mas não são casos isolados. Muitas crianças e muitos adolescentes no Brasil são criados com toda mordomia possível, recebendo tudo do bom e do melhor, sem, sequer, saber o custo do que têm.
Como culpá-los por querer usufruir de tais benesses se seus pais são os primeiros a alimentá-las? Os que agem assim não pensam que dar tudo aos filhos de mão beijada é condená-los à falta de identidade e à falta de noção do valor das coisas.
Existe uma grande diferença entre investir em educação e investir em mimos e caprichos. Uma criança precisa entender desde cedo que realizar os sonhos e conquistar o próprio padrão de vida requerem muita aprendizagem, maturidade e sacrifício. Um adolescente também precisa ser alertado de que a sua independência dependerá muito mais do seu próprio esforço do que do investimento dos seus pais. Não há nada demais em receber ajuda financeira ou emocional nesse momento crucial da vida, desde que isso não signifique ganhar um cheque em branco como passaporte para a acomodação.
Nada é mais valioso do que uma alguém se despertar para o valor da conquista. Somente aí é possível olhar para trás e entender os investimentos dos pais e as mais nobres exigências sociais voltadas para a retidão de caráter, para a solidariedade e para a busca do Bem.