Pensar é um diferencial
O que deveria ser trivial vem se tornando cada vez mais raro. Pensar continua sendo um diferencial na humanidade, inclusive como fiel da balança entre a vida e a morte.
Aquele episódio envolvendo a modelo internacional Ana Carolina Reston Macan, que em 2006 morreu aos 21 anos, vítima de anorexia, é uma prova de que pensar é determinante para a sobrevivência humana. Se ela tivesse refletido sobre a insanidade que envolve a tirania do peso no universo da moda, teria preferido qualquer outra profissão.
Nenhum trabalho vale o preço de uma vida. Nada é mais importante do que esta dádiva divina, que normalmente é trocada por dinheiro, por status social, por poder. Os que pensam sabem que viver bem depende de alguns fatores primordiais: saúde física e mental, paz espiritual e dignidade material. Mais do que isso já é entrar nos desejos megalomaníacos inventados ao longo de nossa existência para que nos sintamos superiores aos nossos semelhantes. No funto, um claro sintoma de insegurança.
Assim como Ana Carolina, que acreditou estar fazendo a melhor escolha em nome da própria carreira, outros tantos profissionais não medem as consequências de seus atos ao colocar em primeiro lugar a vontade de se tornarem ricos, de ascenderem socialmente, de conquistarem a fama. Em essência, não medir as consequências dos atos é o mesmo que não pensar; é o mesmo que se tornar uma marionete nas mãos de qualquer manipulador.
Mais do que ensinar uma criança a adquirir todo o arcabouço de conhecimentos produzidos pela humanidade, o ideal é despertá-la para o prazer de pensar. Este é o principal objetivo da Filosofia (como também é o de outras áreas do saber): dar instrumental para que as pessoas reflitam sobre a própria vida; sobre esta vida inserida nos muitos contextos existenciais, sociais, políticos; sobre as armadilhas que são construídas a partir disso.
Não pensar coloca as pessoas a um passo dos fanatismos; afasta-as do bom senso e do equilíbrio, capazes de protegê-las de inúmeros perigos. Quem pensa escolhe os caminhos da espiritualidade, do bem, do amor, da amizade, da verdade, da honestidade, do respeito ao outro, da solidariedade, do altruísmo, da humildade.
Se todos aqueles que se mataram, consciente ou inconscientemente, tivessem tido a oportunidade de refletir profundamente sobre os rumos de suas vidas, muito provavelmente teriam feito escolhas diferentes. Prova disso são as pessoas que escapam da morte e ganham, de uma certa forma, uma segunda chance. A maioria é levada a repensar a própria existência, a reavaliar os pontos em que errou, a optar por aquilo que considerou insignificante.
Pensar continua sendo um diferencial: em qualquer país, em qualquer língua, em qualquer profissão, em qualquer classe social. É um bem inestimável, que pode ser guardado, levado para onde quer que se vá e, principalmente, um bem que pode ser sempre ampliado.