RAZÃO DE SER DA SINCERIDADE

Existem momentos que disparam um alarme acusando desgaste nas relações entre pessoas. Pessoas que compartilham o cotidiano da família, do trabalho, da comunidade ou mesmo da vizinhança. Quanto mais próxima é a pessoa, mais desafiadora é a tomada de decisão no sentido de estabelecer limites que visem recuperar os afetos, amizade e o convívio entre pessoas cuja relação sofreu desgaste. Primeiro ponto: percebesse falho, olhar para si e para as fragilidades que lhe são inerentes, pois as nossas limitações, incoerências e falibilidades contribuem decisivamente para o desgaste das relações. Só então buscar ver a fragilidade do outro, as incoerências e a "transferência" que fazem, seja de ingratidão, descompromisso e negligência que vão tornando a relação pesada por demais. Nunca se deve jogar o peso de um objeto ou de um problema apenas para um lado, posto que o impacto pode acarretar maiores consequências. Ao mesmo tempo, é muito fácil não assumir no tempo e na devida proporção as tarefas e compromissos confiadas e depois sair-se a fazer "transferências indevidas" ou mesmo menosprezar o valor das atribuições e atividades (tantas vezes não mensuradas por não se prenderem a um objeto-tarefa específica). A nossa cultura burocrática impõe metas e indicadores. Que metas e indicadores podem medir o desgaste de uma relação? E quando o desgaste pode está relacionado ao fazer cotidiano, ao ambiente e a atividade laboral ou mesmo doméstica que não estejam gerando satisfação e desejo, no sentido de realização? Estas e outras questões permeiam as nossas boas e não tão boas relações no dia-a-dia. A maioria das pessoas "suportam" continuar fazendo a miserável ou prazerosa rotina por necessidade de sobrevivência ou por efetivo e afetivo prazer. É neste cenário que as relações se desgastam e se fortalecem. E mesmo as pessoas mais amáveis, que se desdobram em gentileza aparente não conseguem "esconder" o quanto estão carentes de cuidado e atenção e, também, o quanto estão fingindo e fazendo de conta que valorizam e respeitam o fazer do outro. É o caso de trazer à memória as sábias palavras do seu Sequinha (de saudosa memória), nosso terapeuta comunitário, do Projeto Quatro Varas: "VOCÊ SABE DO QUE EU NÃO SEI. MAS EU SEI DO QUE VOCÊ NÃO SABE"!. Ah, escrever esta humilde reflexão me custou tempo e dedicação. Ela é uma resposta e ao mesmo tempo uma "tecnologia" que está para bem além das "coisas" mal feitas ou bem feitas, prazerosas ou não que o cotidiano nos impõe. Neste sentido, a busca da manutenção de boas relações passa pela resiliência e empatia que se sustenta em atitudes coerentes, respeitosas e afetuosas no dia a dia. A sinceridade sempre se impõe em todos os momentos, mesmo diante das situações mais embaraçosas e complexas. Uma razão de ser da sinceridade fundamentada na escuta e no diálogo é a grande resposta mantenedora das boas relações. Sinceridade nos desafia a todo instante, toda hora, todos os dias, na consolidação das relações humanas, as mais diversas, fortalecendo os vínculos e a ternura. Ganha a vida e ganha o mundo. Relações saudáveis e de confiança constroem trabalho e ambientes saudáveis, comunidade saudável, família saudável, pessoas saudáveis e o mundo humanamente melhor.