Profissão: mendigo.
Profissão: mendigo.
A minha rua deveria, por direito adquirido, chamar-se Rua dos Pedintes.
Eu moro em casa, sempre morei, mas mesmo com todos os contras, já estou pensando quão felizes estão os que moram em apartamentos. Como se já não me bastassem as Testemunhas de Jeová, numa importunação semanal, ainda tem um batalhão infindável de pessoas, de todas as idades, desfilando de porta em porta, por vezes, até à noite, fazendo da mendicância profissão, todos os dias.
Há pouco tempo, por volta das 21 horas, fui atender um chamado à minha porta. Pedindo ajuda para comprar leite para os filhos estavam um homem, a mulher com dois filhos pequenos e outro no bucho. Numa cidade em que uma reportagem já flagrou uma mulher alugando um filho para um pedinte, tudo me parece possível.
Eu vi, numa reportagem de televisão que, em São Paulo, algumas barracas vendem -"kits mendigos"- roupas para esse tipo de profissional. Aqui, eles não precisam de disfarces.
Não identifiquei, nessa gang, tipo algum de deficiente físico e se tivesse, também eu não encontraria motivos para tal.
Causa-me surpresa, que num município com mais de 63.300 famílias cadastradas como beneficiárias do "bolsa família", haja essa exorbitância de necessitados.
O cálculo matemático é simplório: 27% de um universo de 700.000 habitantes, corresponde a 189.900 pessoas assisstidas, isso na suposição de três pessoas por família. Convenhamos que algo está muito errado e não é o cálculo.
Certa vez, uma dessas, pediu-me água para beber. Dei-lhe. Ao término, ela me pediu o copo de vidro, no qual lhe foi servido. Daí, conclui que a regra é "não passar batido". Qualquer coisa teria que ser levada.
Não passa despercebida a pachorra de muitos desses elementos. Chegam a fornecer uma lista verbal de produtos, como: leite, iogurte, biscoitos recheados…
Nos transportes coletivos, da cidade onde eu moro, alguns desses profissionais entregam aos passageiros um bilhete solicitando ajuda. Nem mais se dão o trabalho de pedir verbalmente.
Outros propalam que estão com uma filha hospitalizada, precisando de medicação, ou com a mãe na força. Os motivos para pedir são intermináveis.
Nos supermercados, não raro, encontra-se alguém com um pacote de leite, ou biscoitos, pedindo aos clientes que estão na fila do caixa, para lhes passar aqueles produtos.
O ensejo maior deste artigo, foi uma charge que vi, recentemente, de um homem que não tinha as duas mãos, esmolando a beira de uma calçada. Surpreendentemente, o outro que se postou à sua frente, não tinha os dois braços, ainda assim, trabalhava, carregando uma sacola de alças pendurada em cada ombro e um caixote sobre a cabeça.
Isso me fez lembrar do físico inglês Stephen Willian Hawking que, embora, entrevado sobre uma cadeira de rodas, dominava a física como poucos do seu tempo e não deixava de ministrar suas aulas, um só dia, na universidade, até que morreu.
Quero crer, que a maior deficiência não é a física e sim a deficiência moral. Esmolar deixou de ser vergonhoso para se tornar modelo de vida. Deixou de ser uma ignomínia, para ser um ofício diário.
É, desgraçadamente, notório a vocação pelo ócio. Em muitas comunidades ribeirinhas, contudo não apenas nessas, o povo acomodou-se a viver das migalhas do assistencialismo do governo.
Nos Terminais Rodoviários, não é novidade alguma, encontra-se gente pedindo contribuições para comprar passagens da Baixa da Égua para a Taba Lascada, embora more pra lá de Caixa Prego! Tudo não passa de falcatruas.
Não estamos longe do dias em que teremos mendigos com crachás, CNPJ e maquininhas para cartões e PIX.
A minha já tão combalida e minguada paciência exauriu-se há séculos. Não dou ajuda nem esmolas a ninguém. Em vez disso, faço minha contribuição, diretamente, na conta da Instituição Médicos Sem Fronteiras, no débito automático e conclamo aos que puderam, estudar essa mesma possibilidade.
São coisas da minha cidade.