O poder do convencimento.

O poder do convencimento.

Certa vez, aqui em Aracaju, eu fui resolver uma demanda numa agência bancária, na Avenida Francisco Porto, bairro Jardins. Cheguei cedo, antes das 10 horas, mas tarde em relação aos que gostam de madrugar. A fila não estava pequena e já encontrei um falatório danado, muito comum nesses casos, de clientes inconformados com a demora. Rapidamente, dei-me conta de que os comentários acalorados nada tinham com relação ao banco.

Num prédio de dez pisos de um condomínio residencial, em frente, havia um grande banner vertical onde se lia, nitidamente, a frase: JOÃO, NEM ADIANTA CHORAR, PARA VOCÊ EU NÃO VOLTAREI MAIS.

Os comentários eram sempre contra o João. O brasileiro, não poucas vezes, levanta uma bandeira, pelo simples fato de discordar. Muitos discordam até dos que com eles concordam!

- Bem feito! Dizia uma senhora que chegara depois de mim. Quase me encarando, como se eu fizesse parte dos atrabiliários, ou como se eu fosse algum João da vida. E continuou:

- Homem safado tem que receber o troco na mesma moeda! Agora, ele vai ver com quantos cambitos se faz uma cangalha; com quantos passos, miudinhos, se dança um xaxado! Vai ver quem perdeu! Com toda certeza, se envolveu com alguma puta dos peitos grandes e bunda de tanajura…

Nesse ponto, mordi os lábios para não explodir numa gargalhadas e deixá-la ainda mais enfurecida. De verdade, deu-me vontade de jogar mais gasolina na fogueira, mas me contentei em dizer que nem todos os homens são demônios e nem todas as mulheres são santas. Somos todos limitados…

Ela nem me deixou terminar o pensamento.

- Que limitado que nada! "Ozomi" são todos iguais e se defendem uns aos outros. Tá vendo aí? São todos caçotes do mesmo barreiro.

- Senhora, eu não faço parte desse latifúndio e nada tenho contra o João e menos ainda com a tanajura.

Estamos numa época em que as pessoas publicam tudo nas redes sociais, dando contas de suas intimidades, como se a Terra usasse isso como combustível no seu movimento de traslação. Usar a internet para isso, já é intolerável e num banner era uma novidade pra mais de légua!

De alguma forma, aquelas tomadas de trincheiras serviu para ajudar a passar a demora…

Dias depois, no edifício em frente ao, anteriormente, falado, apareceu outro banner com os dizeres: MARIA, NEM DEU TEMPO ESFRIAR O LUGAR QUE ERA TEU…

Não sei nada sobre os comentários na fila do banco, entretanto os comentários, desta vez, rapidamente, tomaram conta da cidade. Ficava provado que João era mesmo um mulherengo, irresponsável, réu confesso. Colocava assim, na visão de muitas mulheres, todos os homens no mesmo nível de safadeza.

Pessoas menos sensatas, com base em não se saber quais fundamentos, chegaram a supor que João e Maria seria um casal popularíssimo no estado. Não era.

Depois, ficamos sabendo que tudo não passara de uma jogada de marketing, de uma empresa de publicidade.

Para os apressados em tomar partidos, levantar bandeiras, julgar causas que não lhes pertencem, imiscuindo-se na vida alheia, espero que lhes tenha servido de lição. Por muito pouco, não sobrou para mim!

São coisas da nossa terra.