Plantando tâmaras.

Plantando tâmaras.

(Para Lena Lustosa)

A Tamareira é uma árvore sagrada, tem um dos frutos mais saborosos do deserto. Comenta-se, que um peregrino pode andar até, três dias, no deserto, comendo, apenas, um único fruto.

Rica em carboidratos, vitaminas A, C do complexo B, antioxidantes como o betacaroteno e luteína, é grande fornecedora de energias.

Um fato curioso acabou gerando um provérbio árabe adverso. Conta-se, que certa vez, um jovem viu um ancião transplantando uma tamareira e disse-lhe:

- Não sei como o senhor se presta a plantar tâmaras, porque "quem planta tâmaras, não come tâmaras da tamareira que plantou". Diante disso, o ancião respondeu:

- Se todos pensassem como você, não existiriam tâmaras no Oriente.

O fato é que, uma tamareira demorava de 80 a 100 para a primeira florada. Nem por isso, o árabe deixava de plantá-las.

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A 1ª Vara da Comarca de Viçosa-CE. Sob os auspícios da Meritíssima Juíza, Dra. Lena Lustosa, com a sociedade local, resolveu plantar tâmaras. Para isso, criou o Projeto Vamos Falar de Nós - Grupo de Reflexão para Autores de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher.

Ora, nós sabemos que a violência doméstica contra a mulher é mais antiga que a tamareira de Matusalém, confunde-se com a história da humanidade.

Nossos gráficos, até, há bem pouco tempo, retratavam o "homem das cavernas" com um porrete numa das mãos e com a outra arrastava a mulher pelos cabelos. Hoje, desgraçadamente, o chamado "modus operandi'' ficou não, somente, mais cruel como variado. Assim, em má hora, surgiu o verbete "feminicídio", termo, completamente, desconhecido no passado próximo.

A "Lei Maria da Penha", mesmo com todos os benefícios angariados, na sua gênesis, também é uma violência. A mulher não necessitaria de lei alguma que lhe garantisse respeito a sua dignidade, pois a Lei Natural já vem infusa na mente do indivíduo. Ninguém se faça de inocente e inimputável.

As agressões físicas, os feminicídios, as injúrias e difamações devem ser combatidas, reprimidas e incutidas nas mentes das pessoas, desde a tenra idade, como ações inaceitáveis.

Todos nós somos filhos de mulheres e muitos têm filhas mulheres. Nenhum gostaria de ver sua filha numa situação de dependência e vulnerabilidade.

Eu cheguei para morar em Aracaju, em 1989. Na mesma época, recém saído do Seminário, chegou Marco Eugênio, jovem sacerdote, para assumir a Paróquia Bv. José de Anchieta. De tão jovem, mais parecis um coroinha. Jovem, mas de uma sensibilidade extraordinária. Uma noite, estávamos reunidos no pátio da igreja contando lorotas, quando alguém, num momento de externa infelicidade, comentou, baixinho, apontando para uma mulher que passava na rua de cima:

- Aquela já vai procurar homem!

Foi como se caísse um raio no meio de nós. O jovem padre, com a maior serenidade disse:

- Aquela senhora, deve ter tanta dignidade diante de Deus quanto todos nós juntos, ou mais.

Não é a toa, que hoje, Dom Marco Eugênio seja Bispo em Salvador.

O problema é que, não podemos jogar para Deus aquilo que é da nossa competência e do nosso real dever.

A mulher, seja antropóloga, ou prostituta; mendiga, ou milionária não perde a sua essência como membra da sociedade por apenas ser mulher.

Peço perdão pelo "apenas", isso também é uma velada agressão.

É verdade, que as técnicas agrícolas modernas e a descobertas de fertilizantes, antecipou muito a florada das tamareiras. Da mesma forma, essas sementes plantadas, hoje, nos corações dos jovens, haverão de antecipar a floração e formar tamareiras mais resistentes às intempéries do tempo.

Espero que quando surgirem as floradas, mesmo que não esteja mais aqui quem teve a ideia da plantação, não falte mentes diletantes para continuar acreditando que o futuro pode ser antecipado.

Aracaju-Sergipe, 23/06/2023.