Segurança

No último 25 de novembro, um adolescente armado invadiu duas escolas na cidade de Aracruz, no Espírito Santo. Assassinou uma menina de 12 anos e três mulheres, professoras. Várias outras pessoas ficaram feridas. Ele usava em sua roupa a "suástica nazista", e, ao ser detido e questionado, não negou sua simpatia pelo regime. Não passou despercebido por jornalistas que o ataque foi comemorado nas redes sociais por outros jovens.

O caso repercutiu minimamente, sem forças para impactar mídias e sociedade tanto quanto os autoproclamados patriotas, vestidos com a camiseta da seleção brasileira de futebol, acampados em frente a quartéis, bradando por intervenção, por golpe.

Não sei dizer se, de forma geral, as pessoas não se deram conta da gravidade do ocorrido ou se simplesmente preferem evitar pensar. Todos os casos de invasão e violência em escolas são, indiscutivelmente, gravíssimos e inaceitáveis, e é urgentemente necessário pensar em alternativas de segurança para combater todos eles. O que diferencia este caso, porém, é que não foi uma ação aleatória ou passional, como outras que já presenciamos no país, mas um crime de ódio, um ódio que tem ligação direta com uma ideologia destrutiva que inferioriza mulheres e outras minorias, e que desenvolve suas células mundialmente.

A mãe da menina assassinada escreveu e divulgou, após o crime, uma carta em que desabafa a sua dor, clama contra o ódio e pede, além de orações, mais segurança para todas as crianças. Segurança. A carta daquela mãezinha se esforçando por aceitar a partida prematura da filha, me fez pensar na plenitude da palavra segurança. Palavrinha abrangente, afinal, de quanta segurança as nossas crianças e toda a nossa gente precisam! Quanta segurança estamos dando? Que tipo de segurança estamos dando às nossas crianças, cujo grau e natureza vão repercutir em suas vidas e na vida de toda uma sociedade? A segurança de sentirem-se amadas e capazes de amar, ou a dos que precisam armar-se, em todos os sentidos, para impor sua pretensa superioridade?

Qualquer ser humano que aprenda a utilizar a razão em equilíbrio com as emoções sabe que esses casos são miseravelmente perversos e doentios, não importando que seus agentes sejam cultos, bem informados, aparentemente sociáveis. No caso do rapaz que cometeu esses assassinatos, ele na verdade mal olhava nos olhos das pessoas; no entanto, muitos dos que detêm as artimanhas de envolver os mais suscetíveis sabem muito bem o que os move. Não, não basta que os órgãos responsáveis ampliem ou criem os mecanismos físicos necessários à segurança das escolas. A segurança passa, também, senão antes, pelo conhecimento, pelo entendimento, pela introjeçao de que somos todos sujeitos dignos de direitos, todos tão diferentes quanto iguais, e que isso ao contrário de diminuir qualquer um de nós, nos eleva, a todos. Sem essa educação vivenciada na escola, à revelia dos pais (os ausentes, inconsequentes ou adoecidos de postura civil), não conquistaremos jamais o futuro de paz que mães, como a da pequena Selena, almejam.