O brasileiro e suas críticas ao técnico Tite

Eu não sou comentarista e nem especialista em futebol: apenas um simples torcedor, ex-jogador amador, mas que adora estudar o comportamento humano e a sociedade.

Não quis me manifestar durante os jogos da Seleção Brasileira na Copa do Mundo Fifa 2022, nem sobre a eliminação do Brasil diante da Croácia nos pênaltis para não ser levado pelo “patos”, pela paixão, pela emoção ou, quem sabe, pela sensibilidade do momento.

E, agora, também não vou falar de futebol, mas do brasileiro. Esse ser que vibrou quando a CBF contratou o técnico Tite, pois ele foi chamado pelo seu brilhante desempenho no Corinthians, lembra? O mesmo torcedor que comemorou a escolha do profissional, hoje o xinga, o chama de burro, de estúpido, até de petista e comunista. Quem poderia imaginar tal situação?

Interessante é que estamos xingando e culpando o técnico Tite por uma derrota nas penalidades, momento em que os brasileiros e amantes do futebol chamam de “sorte”, loteria e sabem que, até o time fraco pode ganhar o mais forte através dos pênaltis, pois não tem como prevê quem poderá sagrar-se como vencedor numa hora de tanta tensão e responsabilidade. Se tivesse como prever não precisava batê-los, era só dá a vitória àquele que for subentendido como vencedor. Simples assim.

De maneira alguma me interprete mal. Não estou defendendo o Tite. Estou apenas apontando a fragilidade e a estupidez das nossas críticas. Se o Brasil passasse pela Croácia, chegasse à final da Copa e a ganhasse, mesmo que através das penalidades, o culpado de hoje seria o nosso herói nacional. Mesmo ele não cobrando um único pênalti e nem podendo prevê ou acertar se algum jogador fará o gol ou não.

Lembra do herói rubro-negro, o técnico Jorge Jesus, que os flamenguistas o colocaram após o apito final na Libertadores como ente divino? Reveja o jogo do Flamengo com o River Plate. Faça esse simples exercício e verás que o River foi melhor durante a maior parte do jogo e o Flamengo só virou nos acréscimos, além de ter empatado nos minutos finais da partida que tinha tudo para o clube argentino ser o vitorioso. Mas, os gols imprevisíveis e “milagrosos” do Gabigol transformaram o quase xingado e possivelmente demitido treinador português em herói da nação.

O futebol é assim: se você ganha, mesmo que por sorte, por acaso ou pela “loteria” dos pênaltis, se tornará herói! Será exaltado, magnificado, ovacionado! Caso perca, mesmo que através de numa jogada malfadada, um erro grotesco, como aquele do jogador do flamengo na final da Libertadores contra o Palmeiras, ou na penalidade, você não vai prestar. Seu passado vitorioso, seu profissionalismo e sua dedicação serão jogados na lata do lixo da história. É assim que agem os torcedores brasileiros e, da mesma forma, segue a humanidade, infelizmente. Só somos valorizados se ganharmos sempre, mesmo que seja nas penalidades.