De Macunaíma a Sérgio Moro
Em 1929, Mário de Andrade cunhou Macuinaíma como "herói sem nenhum caráter"; atualmente produzem heróis de areia, o qual me no tocante ao caráter, assemelha-se ao personagem do escritor.
Por termos enveredado pelos caminhos da desonestidade, estruturado o país através da impunidade, influência e corrupção, quem é fiel aos seus princípios e cumpre com seus deveres e propostas, é tido como super-homem. Aliás, é um desobediente civil fora da lei.
À cem anos atrás, o baiano Rui Barbosa disse "De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto". E eis que os verdadeiros fatos se repetem.
É "rouba, mas faz; é ex-detento Presidente "a alma mais honesta do mundo"; palhaço deputado ironizando a plateia ao dizer " que com Ele pior não fica"; político trajando dinheiro na cueca, mocinhas transportando cocaína para países que condenam á morte tal modalidade de tráfico; e outras bizarrices, são atos normais no país do "tudo termina em samba, futebol, vinho importado e pizza".
Os honestos e retos de atos que mantenham-se eretos e resistentes, consciencialmente; pois não há nada tão ruim, que não fique pior. Isso é próprio dos homens, principalmente, daqueles que trazem essa mácula no DNA familiar.
E uma sociedade, um país não é, se não, o ajuntamento de todas as famílias.
Passou da hora das famílias fecundarem filhos / heróis de barro, ao invés de heróis de areia lavada: se não desmancharem-se nos podres e alagadiços caminhos, provavelmente após secagem, serão resistentes, duradouros e honestos, essencialmente.
Se consequirem filhos refratários em honestidade e lisura de caráter, o quanto possível, melhor; o que não será favor para ninguém. Ao contrário, é dever e obrigatoriedade; principalmente, àqueles que alimentam e enriquecem a prole com o suor do contribuinte.
Começando por esse mero detalhe, a democracia será redemocratizada no futuro. Caso contrário, continuaremos sem novidades nas prateleiras do envelhecido e decrépito museu.