A Personificação do Velho
"A morte parece menos terrível quando se está cansado" - Simone Beauvior
Quase sempre, a experiência trai quem se gaba de ser experiente em determinado assunto. Fazendo-me entender, educar e formar, é uma das experiências em que o des"Educado", recorrendo à falta de respeito, invariavelmente, trai o educador.
Nascemos crianças simples, autênticas, ingênuas, indefesas e dependentes, para na velhice, revivermos a criança simples, dependente e tola que um dia fomos.
Dinheiro e qualquer outra coisa, por exemplo, a mesa farta de comida que assalta a moderidade do estômago, ou até mesmo a gargalhada que ilumina os olhos alheios, é mera ilusão motivacional que transpõe os obstáculos que nos opõe à caminhada ao sucesso.
Em verdade, tudo, mas tudo, mesmo, é mera ilusão motivacional que nos impele a transpor os limites cotidianos. Portanto, vivemos mais pela ilusão momentânea e regozijos alheios, que pela alegre felicidade de viver; dando-nos a certeza que expontaneidade duradoura não existe!
Diante desse impasse existencial jamais resolvido, talvez, quem sabe seja por isso que valorizam mais a criança, que o idoso; sobretudo, porque a criança é roupa nova vistosa, e o idoso, trapo velho enrugado e obsoleto, difícil de ser digerido pelos anseios da jovialidade.
Todavia, mensalmente o Novo retira a velharia do depósito / despensa, confere-lhe um preparo rápido no visual, cuja finalidade é dar uma volta na praça, comer um pastel sem gordura e insosso, tomar um suco sem açúcar e findar o passeio na assinatura e pagamento das contas; e por meio-dia ou menos, o Velho deixa de ser máquina oxidada pelo tempo. Assim feito, os dias de ambos se renovam; por quanto tempo? Supondo que não há investimento sem retorno, em breve, o quanto antes, o Novo será investimento quase garantido - digo quase, porque coração é músculo estriado imprevisível; ainda mais quando tomado pelas comorbidades.
E o Velho? Ora, o Velho é uma sombra que teima em acompanhar os passos, porém, poderá desfazer-se no minuto seguinte, pela falta de luz; pois para quem um dia possuiu tutanos fortes e resistentes devido o cálcio sintetizado nos ossos pelo astro maior, faz tempo que o espectro de luz não banha seu corpo de radiação solar.
E enquanto esse minuto não chega, a máquina enferrujada segue batendo biela sobre uma bengala; quando não, revivendo o carrinho de rolemã, as mãos calejam, ao empurrar as duas rodas de seu assento. Para não ficar para trás, seu corpo lânguido, desengonçado e pelancudo, segue-a pelos quatro cantos da casa.
É a velha experiência pagadora de contas e faturas mensais contraídas pelos Novos, pedindo passagem; afinal, o futuro dos joviais perdulários consumistas pertence, só e tão somente, ao tarimbado Velho; faixa etária que eufemicamente, os criadores de neologismos chamam de terceira idade.
Porém, sem efeito nos dias atuais, sarcasticamente, os Novos diziam que era a idade pé na cova.
P.S.: para o novo, tudo é motivo de selfie e risadas, fato que para o velho, não tem mais graça.